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Coluna do PVC

Reféns do próprio sucesso. É o que une Josep Guardiola e Marcelo Oliveira

PVC

12/05/2015 09h22

Há um número enlouquecedor sobre a trajetória de Pep Guardiola desde que assumiu o Bayern. Até 2014, o Real Madrid costumava chamar o time da Baviera de "La Bestia Negra". Usualmente, os encontros entre Real e Bayern terminavam com vitória alemã na soma dos confrontos. O Bayern avançou contra o Real Madrid nas semifinais de 1976, 2001 e 2012 e nem a lembrança da vitória merengue de 2000 ocultava a freguesia. Até que Guardiola assumiu o Bayern e no confronto semifinal de 2014 o Real Madrid de Carlo Ancelotti atropelou: 1 x 0 e 4 x 0. Na história dos confrontos entre Bayern e Barcelona, havia oito partidas até a semana passada. Dois empates, cinco vitórias do Bayern, só um triunfo do Barça, justamente quando Josep Guardiola era o treinador, nas quartas-de-final de 2009.

A segunda vitória catalã veio com Guardiola no outro banco de reservas. É como se o Bayern tivesse deixado de ser alemão e com sua nova filosofia à espanhola não conseguisse vencer os clubes espanhóis, seus velhos fregueses. O resultado disso é a discussão sobre o momento da carreira de Pep. Antes das quartas-de-final contra o Porto, já se debatia o que poderia ser o maior fracasso de sua carreira, a primeira eliminação como técnico nas quartas-de-final. Pois ele chegou à semi de novo e soma esta às participações entre os quatro melhores da Champions League em 2009, 2010, 2011, 2012 e 2014. São dois títulos e três eliminações um jogo antes da decisão.

Há técnicos históricos que não possuem na carreira fracassos assim tão grandes, simplesmente porque jamais subiram tão alto. Felix Magath, Jurgen Klinsmann, Giovanni Trapattoni e Franz Beckenbauer são exemplos de treinadores do Bayern que não alcançaram as semifinais dirigindo o time da Baviera — Trapattoni foi campeão pela Juventus em 1985.

Não é mau ser refém do próprio sucesso, mas Guardiola amarrou-se à sua incrível capacidade de impressionar pela qualidade e pela capacidade de ganhar títulos dos times que montou.

Não está no mesmo patamar, mas Marcelo Oliveira padece de um mal semelhante, no Cruzeiro. Há o desgaste de dois anos e meio no comando do clube, tempo que serviu para exonerar Vanderlei Luxemburgo depois da tríplice coroa e Adílson Batista após o vice-campeonato da Libertadoes — foram os técnicos que passaram mais tempo na Toca da Raposa nos últimos quinze anos. Marcelo venceu a resistência da torcida, montou a equipe bicampeã brasileira, viu seu elenco se desfazer e começou a remontagem em meio à competição mais importante. Seu único pecado foi não ter conquistado a Libertadores um ano depois de o Atlético tê-la levantado.

À boca pequena, voltam comentários ainda discretos de que Marcelo não é bom em mata-matas. Ora, mas foi campeão mineiro superando semifinais e finais em 2014.  Também foi vice-campeão da Copa do Brasil e isso significa ter superado três fase de mata-matas.

Há, sim, um desgaste. Diferente da Europa, o Brasil dá tempo mais curto a seus treinadores e as relações se deterioram mais cedo, razão pela qual a desconfiança vai aumentar com Marcelo Oliveira, exceto em uma circunstância: o título da Libertadores. Não vencer e a campanha receber o selo de fracasso é outra forma de ser refém do próprio sucesso.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.