Topo

Coluna do PVC

O trabalho do comentarista no dia em que a seleção brasileira perde de 7x1

PVC

08/07/2015 00h26

Estamos escrevendo tanto sobre a derrota mais vexatória da história da seleção brasileira, um ano depois dela, como nunca se escreveu no primeiro aniversário de nenhum título mundial. Nem do tetra nem do penta, pelo menos, dos quais tenho idade para me lembrar bem.

E me lembro de sair da editora Abril, repórter da revista Placar, no dia 17 de julho de 1995, um ano depois do tetra. Foi o noticiário Globo Esportivo quem fez questão de citar — assim, de passagem — no meu caminho para casa e me fazer recordar qual era aquela data, afinal.

Porque escrevemos tanto nesta semana sobre o 7×1, produzi dois textos para a edição especial desta quarta-feira da Folha de S. Paulo e sobraram poucas ideias para compartilhar com você, aqui no blog.

Nesta quarta, você pode ler deste colunista uma análise do vexame e de suas conseqüências na edição impressa da Folha de S. Paulo. E também um saboroso A a Z do 7 x 1, o Glossário publicado na Folha Online —  veja nos links anexados.

Com pouco mais criativo para escrever, decidi compartilhar aqui a resposta a uma pergunta que fiz a mim mesmo: como se sentiu o comentarista que tinha obrigação de ser o mais fiel possível no dia do maior vexame da história do futebol brasileiro? Como foi que consegui?

As pessoas perguntam sempre a um comentarista esportivo como se faz para comentar um jogo de seu time de infância, sem deixar a emoção influir.

Minha resposta sempre foi a mesma: deve ser mais fácil do que na política.

Porque o analista político vota e seu voto reflete seu pensamento, tanto quanto os textos que escreve.

No caso de um jogo de futebol, quase sempre é diferente. A partida conta sua história e o papel do comentarista é apenas explicar por que as coisas estão acontecendo daquela maneira.

Simples assim, esteja seu time sendo campeão ou rebaixado.

Simples assim, se não fosse o 7×1.

Porque é claro que naquela terça-feira, 8 de julho, o primeiro gol representava a história a ser contada e os erros do Brasil que se seguiam iam sendo detalhados por mim, na companhia do Paulo Andrade e do Paulo Calçade, na ESPN Brasil.

Parecia tranqüilo, até surgir a incrível a avalanche de gols entre o vigésimo terceiro e o vigésimo nono minutos. Como contar aquela história se o Mineirão estava de pé, mas parecia ter caído sobre nossas cabeças?

E como continuar a falar sobre um jogo que, na prática, tinha terminado aos trinta minutos do primeiro tempo?

E ao mesmo tempo ter de olhar milhares de pessoas no Mineirão chorando…

Na verdade, lembro de cada detalhe e não sei bem como as palavras continuaram se seguindo, até que no segundo tempo bastava retratar a indignação que todos estávamos sentindo.

Sei que conseguimos dar informação, que era nosso esporte. Quando o Brasil sofreu o sétimo gol, eu já tinha consultado, para não correr o risco de errar e disparei: está consolidada a maior goleada já sofrida pela Seleção Brasileira em todos os tempos.

O complemento da informação eu sabia de memória, mas preferi olhar no livro que carregava na bolsa, como sempre mandou meu mestre Sergio Martins: 0x6 em 1920 para o Uruguai era até então o maior vexame. O 0x7 consolidado por Schürrle aos 34 minutos do segundo tempo configuravam a maior tragédia a partir daquele instante, maior do que quando a seleção sofreu oito gols, contra a Iugoslávia, em 1934, porque naquele amistoso conseguiu marcar quatro vezes.

Esta lembrança daquela tarde no papel de comentarista serve apenas como tentativa de compensar seu esforço de vir até aqui, buscar os textos mais analíticos sobre a trágica derrota. Assim que possível eles estarão aqui também, replicados das edições da Folha, a impressa e a online.

Por enquanto, desculpe esta modesta tentativa…

Do 17 de julho de 1994, minha primeira Copa, é mais fácil lembrar da última reação. Enquanto a disputa por pênaltis corria, um batalhão de repórteres do qual eu fazia parte subiu até o último degrau da tribuna de imprensa do Rose Bowl, de onde se escaparia mais rapidamente para a zona mista, a área por onde passariam brasileiros vencidos ou vencedores. Havia um teto baixo, com ranhuras na pintura que, não percebi, podiam machucar. Quase não cabíamos ali, uns quinze repórteres que éramos.

Quando Roberto Baggio desperdiçou a última cobrança e chutou por cima do gol de Taffarel, eu, jovem repórter de Placar, soquei o ar discretamente e corri para fazer as entrevistas. Chegando ao vestiário, olhei para a minha mão direita, minutos depois do soco no ar ter se encontrado com as ranhuras da pintura no teto baixinho.

A mão direita estava totalmente ensanguentada.

A alma do comentarista estava mais ou menos do mesmo jeito no final de Brasil 1×7 Alemanha. Exatamente um ano atrás.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.