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Coluna do PVC

Acreditar! O Vasco adota o lema e lembra o livro inglês Febre de Bola

PVC

22/08/2015 08h02

Uma parte da torcida do Vasco levou faixa ao treino da sexta-feira com a frase: "Eu escolhi ser Vasco em todos os momentos!" Jorginho citou a final da Copa Mercosul contra o Palmeiras, perdida por 3 x 0 no intervalo, virada para 4 x 3 no segundo tempo, para dizer que é possível sair do rebaixamento. A capa do diário LANCE! deste sábado fala do técnico abraçando o lema "Eu escolhi acreditar!" Cristão fervoroso, ele crê.

Tudo isso remeteu a um capítulo delicioso do livro Febre FeverPitchde Bola (Fever Pitch), do autor inglês Nick Hornby, autor também de Alta Fidelidade. Pode não ter uma coisa a ver com a outra, mas este blogueiro se lembrou de um capítulo brilhante, o da conquista do título pelo Arsenal contra o Liverpool em 1989, 18 anos depois da última conquista em 1971.

O Arsenal estava na liderança, perdeu terreno, o Liverpool encostou e na última rodada o Arsenal tinha como única chance vencer em Anfield por dois gols de diferença. Neste caso, empataria em número de pontos, em saldo de gols, mas venceria o campeonato pelo número de gols marcados.

Hornby escreveu o capítulo "The greatest moment ever" (O melhor momento de todos). O trecho sobre como ele duvidava do título, conquistado no final da rodada, tem dois parágrafos marcantes. São assim:

Como a maior parte dos torcedores ingleses, a maior parte dos jogos a que assisti foi do Campeonato Inglês. E na maior parte das vezes, o Arsenal não tinha nenhum interesse real no título da Primeira Divisão depois do Natal. Então, mais da metade dos jogos a que assisti tinham interesse menor, pelo menos de acordo com aquilo que a imprensa define como jogos sem importância. Não havia unhas roídas ou testas franzidas. Seu ouvido não ficava doendo por estar com o rádio grudado na orelha, tentando saber como estava a partida do Liverpool, que podia vencer e lhe tirar a alegria…

E então, depois de uns dez anos desta sensação, ganhar o campeonato passa a ser algo em que você acreditar ou não. Como Deus! Você admite que é possível, claro, e você tenta respeitar a crença daqueles que conseguem crer. Entre os anos de 1975 e 1989, aproximadamente, eu simplesmente não acreditei!"

Deixamos o autor inglês Nick Hornby de lado, a partir daqui. É claro que o Vasco pode escapar. Precisa apenas jogar bem no segundo turno, por mais que isto pareça difícil. O equilíbrio de forças do futebol brasileiro permite imaginar uma reação, como o Joinville anuncia. Então, é justo acreditar.

O texto de Hornby vale também para entender como será o futebol brasileiro, no que diz respeito à conquista do título mais importante. No passado, todo mundo ganhava. Um estadual que fosse, e até o início dos anos 90 isso não era pouco. Agora é diferente. O Vasco tem de acreditar na fuga do rebaixamento. Mas não pode se contentar com isso. O Vasco é um clube como o Flamengo, o Fluminense, o Corinthians, o Botafogo, o Palmeiras, o Santos, o Internacional, Grêmio, Cruzeiro, Atlético, São Paulo e mais alguns que precisam acreditar em Deus.

Ou melhor, acreditar que é possível fazer um trabalho para ser campeão brasileiro.

 

 

Desculpe se você tem o livro em português. Estou em Madri com a versão inglesa e traduzi ao meu jeito. Talvez a tradução em português esteja um pouquinho diferente, mas dizendo a mesma coisa.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.