Topo

Coluna do PVC

Será uma vergonha se Aidar renunciar e Leco não for o presidente

PVC

13/10/2015 09h12

Carlos Miguel Aidar prometeu protocolar sua renúncia na noite desta terça-feira e todos os indícios são de que o fará. Na manhã de segunda-feira, um pedido para conversar com o presidente feito por este colunista recebeu como resposta: "Depois de quarta-feira." Em outras palavras, depois que a poeira abaixar e Aidar não estiver mais no exercício da presidência, considerará a hipótese de dar entrevistas ou falar a respeito das denúncias que sua gestão recebeu.

Mas antes mesmo da renúncia, esboçam-se articulações e boatos sobre possíveis candidaturas que dificultem a Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, ser candidato único para o mandato tampão. Se Leco não for o único candidato, será mais uma vergonha!

Para entender o porquê é importante compreender a divisão histórica da política são-paulina. Quando Carlos Miguel Aidar indicou Juvenal Juvêncio à sua sucessão, em 1988, houve um racha político. Juvenal ficou de um lado, Antônio Leme Nunes Galvão de outro. Em 1988, Juvenal ganhou a eleição por um voto, mas perdeu dois anos depois, e de lavada. Galvão encabeçava a chapa de oposição, mas depois de eleger a maior parte do Conselho Deliberativo que escolheria o presidente um mês depois, resguardou-se. Recusou ser o presidente, indicou José Eduardo Mesquita Pimenta para seu lugar e passou a ser a maior liderança desse lado da política são-paulina.

Dali até sua morte, em 2001, ajudou a eleger todos os presidentes: além de Pimenta, Fernando Casal de Rey (duas vezes), José Augusto Bastos Neto e Paulo Amaral. Galvão morreu em 2001 e, no ano seguinte, o grupo de Marcelo Portugal Gouvêa e Juvenal Juvêncio voltou a ser soberano. Em 2002, Marcelo Portugal Gouvêa foi eleito, exerceu dois mandatos e Juvenal Juvêncio passou a ser o grande articulador político do clube.

Juvenal Juvêncio está doente. Seu velho grupo político partiu-se em pelo menos nove facções. Uma delas, denominada Movimento São Paulo, que agrega gente como o conselheiro Antônio Donizeti e o ex-diretor de marketing Douglas Schwartzmann, articula-se para evitar que Leco seja candidato único. Só que Leco faz parte do mesmo grande grupo. Digamos que os antigos conselheiros do que se chama aqui a grosso modo de "facção Galvão" articulem-se? Que pensem em eleger José Eduardo Mesquita Pimenta ou Fernando Casal de Rey… Não há aqui nenhuma relação com o grupo de Leco. Mas o mais provável é que este lado monte uma candidatura para a eleição de 2017, depois do mandato tampão.

Agora, se alguém de um dos grupos que deram solidez à eleição de Aidar, que faziam parte do mesmo grupo político, agora tentarem trair Carlos Augusto de Barros e Silva será mais uma vergonha no São Paulo! Porque significará a tentativa de proteção a quem participou ativamente da gestão Aidar e simbolizará a tentativa de esconder o que houve de errado na administração que se encerrará na terça-feira à noite. Em outras palavras, significará a tentativa de evitar a descoberta de coisas que eles próprios fizeram.

Por mais que algumas pessoas se incomodassem quando se dizia que o São Paulo era um clube diferente, que se julgue que o jogo político deveria incluir eleições diretas entre os sócios — e deveria — é inegável que as decisões tomadas interna e discretamente faziam muito mais bem ao clube do que o vazamento de informações e o acúmulo de facções políticas atuais. Incrível como o São Paulo vive um período ruim, como viveu em outras épocas — a gestão Bastos Neto foi uma calamidade do ponto de vista político e esportivo, no final dos anos 90. Nem sempre houve o clube diferente. Mas foi assim na primeira década deste século, diferente da segunda metade dos anos 90.

O contraponto da lavagem de roupa suja em público é o que se passa no Palmeiras atualmente.

Há duas semanas, o ex-presidente Arnaldo Tirone e o atual, Paulo Nobre, discutiram asperamente na reunião do Conselho Fiscal. Tiveram de ser apartados, segundo relatos. A informação vazou, mas não foi um escândalo. Questionado sobre Arnaldo Tirone não pagar os impostos de renda em sua gestão, acusação que gerou a briga, Paulo Nobre respondeu a Wanderley Nogueira, no domingo à noite: "Olha, as questões que são discutidas no Conselho devem ficar no Conselho." Se não há paz total, também não há escândalo.

É sempre melhor quando é assim. Isso vale para o São Paulo, mas também para o Flamengo, o Corinthians, o Palmeiras, o Santos, o Fluminense…

 

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.