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Coluna do PVC

Corinthians pode repetir com Carille a história de Oswaldo

PVC

22/12/2016 11h11

Ser técnico de futebol não é fácil. Não basta ser bom. É preciso convencer a imprensa, a torcida, a diretoria e os jogadores que você é bom. Este exercício exige dedicação a cada pedaço do dia. Da montagem do treino capaz de atrair o elenco, às conversas individuais, às escolhas dos titulares, até as entrevistas coletivas. Se o cara for muito gente boa, passa a ideia de bundão. Se for agressivo, dá a impressão de prepotente.

O início da carreira de Oswaldo de Oliveira é até hoje o melhor exemplo de como é difícil alcançar a linha tênue onde está a chance de firmar-se no mercado. Em janeiro de 1999, logo depois da saída definitiva de Vanderlei Luxemburgo para a seleção brasileira e depois do título nacional de 1998, "Oswaldinho" assumiu o comando como treinador. Tinha a mesma fala mansa de hoje, a cabeça um pouco mais baixa e o olhar de quem precisava de afirmação.

Ficou oito jogos no cargo, com três vitórias, um empate e quatro derrotas. Foi substituído por Evaristo de Macedo logo depois de golear o Ubiratan do Mato Grosso do Sul por 6 x 2.  Evaristo já não era o treinador de outros momentos de sua carreira. Não deu certo. Demorou 22 partidas para a direção recolocar Oswaldo de Oliveira no cargo. Parecia absoluta falta de firmeza, de convicção. Mas Oswaldo apareceu nas primeiras entrevistas diferente da primeira chance, em janeiro. Peito estufado, cabeça erguida, confiança estampada no rosto.

Reestreou no dia 2 de maio. Em 20 de junho era campeão paulista. Em 22 de dezembro, campeão brasileiro. No dia 14 de janeiro de 2000, ergueu a taça do Mundial de Clubes. Até hoje se diz que era simples dirigir uma equipe com Dida, Índio, João Carlos, Nenê e Kléber; Rincón, Vampeta, Marcelinho e Ricardinho; Edílson e Luizão. Podia ser. Mas em janeiro não foi.

Fábio Carille foi tratado como técnico efetivo até o final do ano, logo depois da saída de Cristóvão Borges. Ficou seis partidas no cargo. A diretoria não sentiu firmeza, elenco e torcida viam-no como interino, o discurso também parecia de treinador provisório. Roberto de Andrade bateu no peito e disse que podia errar, mas erraria sozinho. Trouxe Oswaldo de Oliveira. Foram treze jogos.

Lembre-se dos 8 jogos de Oswaldo e dos 22 de Evaristo em 1999… Impossível não comparar com as 6 partidas e as 13 de Oswaldo em 2016, com a confirmação de que Carille começará 2017 como técnico do Corinthians.

Atenção: não pode ser deixa como está para ver como é que fica. Tem de ser escolha, técnico efetivo. É o técnico do Corinthians.

Pelo menos até que os resultados o derrubem. Não seria assim com qualquer outro? Com Reinaldo Rueda, com Vanderlei Luxemburgo, com Guto Ferreira?

A diferença precisa ser a vibração.

Não é fácil ser técnico de futebol. Fábio Carille sabe disso. Tem o desafio consigo mesmo de estufar o peito, erguer a cabeça, discursar com confiança em passar a fronteira da prepotência.

Se for assim, Fábio Carille pode funcionar para o Corinthians, como Oswaldo de Oliveira funcionou há 17 anos.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.