As confusões sobre elite no futebol brasileiro
A pesquisa da Armatore sobre o perfil do torcedor do Corinthians na Arena Corinthians é respeitável. Toda pesquisa, quando se sabe ler, ajuda a entender tendências. Mas há armadilhas. Ao afirmar que 40% do público que frequenta a Arena Corinthians está elitizado e apontar o acesso desta fatia ao ensino superior, corre-se o risco de esquecer um detalhe. Em 2004, o acesso da população brasileira às faculdades, entre 18 e 24 anos, era de 32,9% da população. Em 2015, era de 58,5%.
Há outra questão. A pesquisa consultou frequentadores do estádio (não apenas sócios-torcedores, como esta nota dizia inicialmente). Entre os entrevistados, 66% têm entre 30 e 55 anos e 11% estão acima dos 55 anos. O índice com acesso à universidade ou com curso superior completo nesta faixa etária é maior do que os que têm até 29 anos.
A discussão sobre o público nos estádios exige a lembrança de que é preciso, sim, dar acesso a todas as camadas sociais.
Isto é indiscutível.
A pergunta é se esse acesso no passado fazia o torcedor mais pobre estar no estádios sempre ou de vez em quando.
Porque os estádios brasileiros sempre estiveram às moscas.
O Corinthians foi campeão brasileiro de 1999 com 21 mil pessoas de média de público. Quem acordasse no domingo de sol e resolvesse, por ímpeto, ir ao estádio, podia pegar uma fila e ter acesso ao ingresso. Pagando caro ou barato.
A diferença é que clubes como Corinthians, Palmeiras e São Paulo hoje dão preferência a quem vai a todos os jogos. E o número médio de torcedores destes clubes nos estádios aumentou. O Corinthians tem 33 mil de média de público neste ano e teve 29 mil no ano passado, apesar de ter sido sétimo colocado. O Palmeiras tem 31 mil presentes por jogo neste ano, média semelhante à do ano passado, superior à do bicampeonato brasileiro de 1994, quando havia 14 mil espectadores em média no Parque Antarctica.
Daí que não parece haver, na opinião deste colunista, uma ação pensada para elitizar os estádios no Brasil. Não há nem sequer dirigentes organizados suficientemente para isto. O que há é o custo de manutenção do estádio e a lei da oferta e da procura.
Incrivelmente, os clubes de ingresso médio mais caro do Brasil, Corinthians e Palmeiras, tiveram os maiores públicos do país em 2016. Neste ano, com todas as competições somadas, o São Paulo superou o Palmeiras e o Corinthians, com ingresso médio mais baixo. Mas copiando o sistema de milhagem que os planos de sócios-torcedores de palmeirenses e corintianos tiveram nos últimos anos.
O fenômeno São Paulo é importante. Pelo preço baixo e pelo plano de sócios. No Brasileirão, o Corinthians tem a melhor média de público.
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