Carta ao prefeito João Dória

Caro, prefeito.
O senhor certamente já passou em frente ao Pacaembu numa noite qualquer.
Talvez não tenha olhado para o lado com a atenção devida. De fato, a maior parte dos habitantes de São Paulo não observa atentamente a fachada monumental, iluminada, com os dizeres "Estádio Municipal – Paulo Machado de Carvalho".

Muita gente sai de São Paulo com destino a Buenos Aires para visitar La Bombonera. Muitos também vão a Madri ou Barcelona, em busca de futebol.

Incrível! Temos este produto aqui. O Pacaembu é uma visita imperdível, aula de história do Brasil e do futebol. Isto serve para se sentar em suas arquibancadas e conviver com todas as camadas sociais ou para visitar o Museu do Futebol e ver como a história do país transformou-se, década após década, com o futebol mostrando esta mudança.

É justo ir à Espanha para assistir ao melhor futebol de clubes do planeta, Barcelona e Real Madrid.

Estudos já indicaram a participação do futebol na economia da Espanha, com mais de 150 mil empregos criados, 0,75% do PIB em 2013. E a contribuição sobe ano após ano.

O senhor já visitou o mundo todo. Mas repare como há gente que nunca foi a Paris e preferiu ir a Madri ou Barcelona ou à Inglaterra para assistir aos grandes jogos. Pense agora como isto contribui para a economia dos países de futebol.

Pois o Brasil é o País do Futebol.

Só que a indústria do turismo nunca explorou isto e, pior, nunca se olhou para o futebol como possibilidade de contribuição para a economia. Para gerar empregos e pagar impostos.

Não cabe ao setor público trocar o sistema de iluminação do Pacaembu, mas cabe criar condições de fazê-lo. Se não há tempo de realizar o serviço antes da privatização — que precisa ser feita a não repetir o Maracanã — há tempo para procurar investidores que realizem o serviço.

É fato que por aqui não temos a compreensão do que o futebol pode gerar empregos e pagamento de impostos.

Mas quem governa precisa ter noção de onde há espaço para crescimento.

Caro prefeito, o Pacaembu é símbolo do país do futebol.

É possível que a melhor solução seja privatizá-lo, como o senhor disse em depoimento gravado. Mais saudável seria dizer numa entrevista coletiva, com direito ao contraditório. Mas digamos que seja mais confortável.

É necessário que o senhor divulgue como serão seus planos para que não se repitam equívocos, como houve nos processos dos outros estádios públicos do Brasil, para não repetir o que houve no Maracanã, Mineirão e Fonte Nova, por exemplo.

Dizem que o senhor pretende sucatear o Pacaembu, para facilitar o processo de privatização.

Se é verdade ou mentira, cabe ao prefeito explicar. Nada como uma entrevista coletiva para fazê-lo.

Falta menos de um mês para que o prefeito se torne candidato a governador de São Paulo.

Também por isso, é imperativo que o prefeito explique por que houve cinco apagões em oito jogos em 2018? Por que, um ano depois de sua posse, três dos últimos oito jogos foram interrompidos por causa da falta de luz?

Porque não investirá um centavo em sua renovação é compreensível. Mas nenhum centavo em sua manutenção?

Para um prefeito que pretende ser governador, é imperativo explicar a razão de um dos aparelhos públicos que podem ajudar um pedaço da economia do Brasil, uma indústria que está no zero, chegar a 0,75% do PIB, como a indústria do futebol consegue na Espanha.

Cabe ao senhor, um mês antes de de desincompatibilizar, explicar seu plano de viabilidade do estádio público de São Paulo.

Se o senhor não o tiver, um ano e meio depois de se tornar prefeito, mesmo que o futebol não seja a prioridade, torna-se proibitivo o voto para governador.

O mínimo é uma entrevista coletiva para explicar por que o Pacaembu chegou ao fundo do poço na sua gestão.