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Coluna do PVC

Saída de Marco Polo pode ser chance para a CBF

PVC

27/04/2018 12h10

Há uma eterna nuvem de corrupção sobre a CBF. Vem de antes da gestão de Ricardo Teixeira, muito antes da posse ou do afastamento de Marco Polo Del Nero. Na eleição em que Otávio Pinto Guimarães subiu ao poder, em 1986, havia denúncias de venda de votos para as duas chapas, encabeçadas por Medrado Dias, apoiado pelo presidente Giulite Coutinho, e Nabi Abi Chedid, ex-presidente da Federação Paulista. Com medo de que o pleito terminasse empatado e de que fosse eleito o candidato mais idoso, Nabi Abi Chedid inverteu a chapa e passou a ser vice de Otávio Pinto Guimarães, presidente da Federação do Estado do Rio, mais velho do que Medrado Dias. Otávio ganhou a eleição por um voto.

Sua gestão foi um fracasso político e financeiro. A CBF passou a ser lucrativa com Ricardo Teixeira. Mais lucros do que distribuição de recursos para que o futebol se espalhasse e difundisse por todo o país. É tão absurdo o estádio Mané Garrincha estar ao relento, com públicos de 300 pagantes, quanto não haver um time forte, capaz de dar movimentação ao palco da capital do Brasil. Isso se faz com difusão do futebol pelos 8,5 milhões de quilômetros quadrados.

Como empresa, a CBF é muito melhor hoje do que era na época de Otávio Pinto Guimarães.
Mas uma empresa não pode ter uma nuvem de corrupção a sobrevoá-la.

Ninguém se surpreendeu com o banimento de Marco Polo Del Nero do futebol. Nem ele mesmo, apesar de afirmar em nota oficial que recebeu a notícia com "surpresa e indignação". Tanto que articulou sua sucessão há dois meses, com o agendamento da eleição que leva ao poder Rogério Caboclo, seu afilhado político. Diga-se, com a complacência dos clubes. Mesmo que não conseguissem articular uma candidatura de oposição, os vinte presidentes de clubes da Série A poderiam ter se manifestado, como fez Andrés Sanchez, que votou em branco. Mas não. Ninguém se levantou.

Também ninguém transformou o processo nos Estados Unidos num processo criminal no Brasil. Incrível! Deveria haver.

A mudança da gestão política da CBF só acontecerá se os clubes decidirem mudar.

Mesmo assim, a saída de Marco Polo Del Nero pode ser uma oportunidade para Rogério Caboclo. O presidente que não podia viajar agora não pode participar do futebol. Se a CBF pretende se apresentar ao mundo como uma empresa capaz de melhorar o futebol do Brasil, ela não pode ter uma nuvem de corrupção a sobrevoá-la. Rogério Caboclo não tem oposição e a CBF não tem mais um presidente que não pode sair do Brasil. Mas Caboclo precisa se mostrar um presidente competente, na administração e na difusão do futebol no Brasil. Não é carismático, nem um político. A visão dos que convivem com ele é mais de um administrador.

Por isso, sua única chance será apresentar ao Brasil uma CBF limpa, competente e que faça a difusão do futebol pelo Brasil.

Não é fácil que aconteça. Mas pode ser uma oportunidade.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.