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Coluna do PVC

Desde quando o Brasil peca por falta de qualidade

PVC

11/09/2018 06h51

O Atlético Mineiro venceu o Atlético Paranaense por 3 x 1 e livrou a 24a. rodada do Brasileirão de ter a pior média de gols da história dos campeonatos por pontos corridos. Não impede que se discuta com cuidado e atenção a queda do índice que mais revela a qualidade do jogo no planeta: os gols. O número desce todos os anos desde 2009, com exceção de 2011. Dos 2,88 da temporada vencida pelo Flamengo, há nove anos, chegamos aos 2,16 em 2018. A pior média de gols desde 1990.

O que não vale esquecer é que 1990 não é a pior da história. Com Corinthians de Neto campeão, aquele campeonato alcançou 1,89, contra 1,80 da Copa União de 1987. Pior também foi… 1971!

A primeira temporada de Campeonato Nacional, com este nome, reunia Pelé, Rivelino, Tostão, Gérson e todos os demais 18 campeões mundiais no México. Registrou a segunda pior média de gols de todos os tempos (1,83). A primeira rodada do Brasileirão que se abria com o país campeão do mundo, no ápice de seu futebol, registrou 14 gols em 10 partidas. Bateu na trave de empatar com os 13 gols da malfadada 24a rodada de 2018. Naquele tempo, sobrava qualidade e mesmo assim raros foram os gols.

Lembrar que já foi ruim antes não exclui pensar que está ruim agora. Está péssimo. O goleador do Brasileirão tem apenas 12 gols, comemoram-se defesas que passam semanas sem ser vazadas e há mesmo que se discutir por que razão o campeonato não tem tantos gols quanto há na Espanha, na Alemanha, na Itália e na Inglaterra.

Poderia se apontar para o equilíbrio imenso aqui, porque na Alemanha o Bayern sobra, goleia, e a Bundesliga tem a maior média de gols entre todos os torneios nacionais do planeta (2,79). Mas o Paulista tem menos igualdade e teve 2,07 de média contra 2,16 do Brasileirão, equilibradão.

Deixemos de lado a qualidade dos jogadores daqui comparada com a dos da Europa. Há uma razão evidente para os clubes daqui não conseguirem dar mais beleza a seus jogos: nenhum deles tem time. Não confunda time com elenco. Num país que exporta 62 jogadores durante o Brasileirão e troca 19 vezes os técnicos em 18 rodadas, qual a chance de haver equipes estruturadas. Não é coincidência o Grêmio ser o único elogiado nos últimos dois anos. São seis titulares iguais aos que ganharam a Copa do Brasil de 2016: Marcelo Grohe, Geromel, Kannemann, Maicon, Luan e Ramiro.

Até o Cruzeiro, também com dois anos de trabalho de seu treinador, tem apenas três titulares remanescentes da semifinal daquela Copa do Brasil, em que foi eliminado pelo Grêmio: Robinho, De Arrascaeta e Léo. No caso cruzeirense, há também o ingrediente de Mano Menezes ser mais cauteloso do que Renato Gaúcho. Mas a continuidade de trabalho e de elenco carrega boa parte da explicação.

Não há qualidade de jogo sem qualidade de treino, sem tempo para executá-lo, sem manutenção da ideia de jogo. No Brasil, só dois times têm isso. No passado, também era assim, com trocas de treinadores constantes, mas o jogo era disputado num espaço maior, porque os jogadores corriam menos quilômetros e diminuíam menos o raio de drible dos atacantes. Mesmo assim, no ápice do futebol destas plagas, o Brasileirão teve seu primeiro campeonato com 1,83 de média de gols e quatro 0 x 0 na primeira rodada. Terminou com vitória do Atlético por 1 x 0 sobre o Botafogo, diante de 40 mil torcedores no Maracanã, com 20% de ocupação.

Veja abaixo, os resultados da jornada inaugural do Brasileirão de 46 anos atrás:

1ª RODADA
GRUPO A
7/agosto/71
SANTA CRUZ 1 x CORINTHIANS 4
Gols Santa Cruz: Luciano. Corinthians: Rivelino, Tião, Vaguinho e Mirandinha.
INTERNACIONAL 0 x FLUMINENSE 0
PALMEIRAS 1 x PORTUGUESA 0
Gol César.
CEARÁ 0 x VASCO 0
CORITIBA 0 x CRUZEIRO 2
Gols Tostão e Lima.

GRUPO B
7/agosto/71
SÃO PAULO 0 x GRÊMIO 3
Gols Scotta (2) e Flecha.
SPORT 1 x FLAMENGO 0
Gol César.
BAHIA 0 x SANTOS 0
ATLÉTICO-MG 1 x AMÉRICA-MG 1
Gols Atlético-MG: Dario. América-MG: Dirceu Alves.
BOTAFOGO 0 x AMÉRICA-RJ 0

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.