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Coluna do PVC

Dudu muda perfil de craque do Brasileirão

PVC

04/12/2018 11h52

Nos primeiros cinco anos do prêmio Craque do Brasileirão, de 2005 a 2010, duas vezes o troféu foi conquistado por um goleiro acima dos 30 anos: Rogério Ceni. Apesar do indiscutível mérito do mito são-paulino, discutia-se em 2006 e 2007 por que razão não havia jogadores de ataque capazes de ser destaque do melhor torneio do país. Debates semelhantes houve quando Carlos Tévez e Dario Conca venceram, Tévez em 2005, Conca em 2010. Tévez era um craque pretendido pelo planeta, mas que só demonstrou ter mercado no West Ham, quando finalmente se transferiu para a Europa em 2006, três anos após ser protagonista do Boca Juniors na conquista da Libertadores.

Tirando o goleiro e os estrangeiros, nos primeiros cinco anos o prêmio foi conquistado também por Adriano, o Imperador. Aos 27 anos, parecia ter desistido do futebol de alto nível praticado na Europa.

E por Hernanes. Venceu pelo São Paulo, em 2008. Mas, na mesma temporada, a Bola de Ouro da revista Placar foi entregue a Rogério Ceni. De novo a discussão sobre as razões de não haver um super craque no Brasil.

O Brasil exportação é o país dos adolescentes e veteranos, não do jogador no ápice, na idade da consagração, entre os 25 e 29 anos.

Dudu é diferente. É possível discutir se Dudu deve ir para a China, se times importantes da Europa, como Valencia e Sevilla podem desejar seu futebol, mas o camisa 7 do Palmeiras chega ao prêmio do Brasileirão aos 26 anos. A tendência dos imberbes ou anciãos da década passada mudou na década de 2010. Neymar foi premiado em 2011 aos 19 anos, Fred em 2012, aos 29, Éverton Ribeiro ganhou em 2013, aos 24, e em 2014, com 25, Renato Augusto ficou com o troféu em 2015, aos 29, Gabriel Jesus em 2016, aos 19. A exceção é Jô, ganhador de 2017, aos 30 anos.

Não significa que o melhor jogador do Brasileiro tenha mercado nos principais clubes da Europa. Historicamente, não têm. Nem Zico, craque do Brasileirão de 1983, consagrou-se com uma transferência para a Roma ou Juventus, gigantes da época. Foi para a Udinese. Os exemplos de gênios consagrados no Brasileiro, negociados em seguida, para gigantes europeus concentram-se.

Falcão, eleito em 1979, foi para a Roma em 1980. Careca, gênio de 1986, foi para o Napoli compartilhar o campo com Maradona, em 1987. Renato Gaúcho, eleito na Copa União de 1987, foi para a Roma em 1988. Edmundo, perfeito em 1997, seguiu para a Fiorentina. Kaká, Bola de Ouro de Placar em 2002, foi para o Milan em 2003. Robinho, ganhador de 2004, chegou ao Real Madrid em 2005. Gabriel Jesus, eleito em 2016, foi levado por Guardiola para o Manchester City no janeiro seguinte.

Não é diferente com os craques dos campeonatos periféricos do planeta. Centurión, eleito na Argentina em 2014, foi para o São Paulo, onde fracassou. Pavón, melhor da Argentina na temporada 2017/18, só teve proposta concreta do Zenit. Caso de Pity Martínez, estrela do River Plate, finalista da Libertadores, que tem oferta do Atlanta United, dos Estados Unidos. O brasileiro Jonas e o mexicano Lozano, eleitos em Portugal e na Holanda, ficaram em seus países.

Os campeonatos periféricos exportam, exportam, exportam…Nunca há a segurança de ter, nas estrelas nacionais, craques prontos para explodir na elite do futebol mundial, na Premier League, Bundesliga ou Liga Espanhola. Os novatos, sim. Sem ser protagonista do Brasileiro de 2017, Richarlison foi para o Watford e depois para o Everton. É excelente, como Arthur, negociado com o Barcelona, sem ser destaque do Brasileirão, mas da Libertadores.

Nesse cenário, Dudu poderia se lembrar de que tem uma oferta tentadora: ficar no Palmeiras até 2022. Se for eleito daqui a quatro anos, vamos discutir por que o craque do campeonato já está na faixa dos 30 anos. Por enquanto, ele foi eleito aos 26.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.