As novas camadas sociais dos grandes clubes brasileiros
Minha máquina de escrever Remington 25 chegou à minha casa, presente de aniversário, quando fiz 14 anos. Tratava-se de um plano maquiavélico de minha mãe querida. Dona Irene sempre quis meu bem, mas desejava mesmo que eu aprendesse a datilografar para arrumar emprego de office-boy mais rápido, no início do ano seguinte. Ingenuamente, coloquei minhas folhas de sulfite no braço da máquina e comecei a aprender a bater.
Ai, que coisa antiquada… máquina de escrever.
Aprendi a datilografar com os dez dedos, o que me faz ainda hoje ágil ao computador. Minha tia Yvone foi quem me ensinou que podia tabular. Pronto. Meu exercício diário era bater à máquina a escalação dos doze grandes clubes do Brasil.
Vamos combinar que não se dizia "doze grandes" naquela época. É uma invenção da revista Placar, que nunca citou os doze gigantes assim: "os doze grandes." Até preferiu o Clube dos 13, a partir de 1987. Mas toda publicação em Placar tratava fundamentalmente dos quatro do Rio, dos quatro de São Paulo, dos dois do Rio Grande do Sul e dos dois mineiros. Doze grandes, portanto. Para desespero do Flávio Gomes e do José Trajano, porque Portuguesa e América ficavam fora, num tempo em que podiam aparecer dentro.
Acontece que nos últimos cinco anos só Cruzeiro, Atlético, Palmeiras, Corinthians, Grêmio e Athlético Paranaense ganharam troféus nacionais ou internacionais. Os novos seis grandes…
Não, não.
Não se está resumindo a questão a estes troféus. Há, no entanto, uma claro redefinição de forças. Nos últimos cinco anos, todos os doze grandes, mais o Athletico Paranaense, ganharam alguma taça. A exceção é o São Paulo, que está na fila desde 2012.
Também não se vai resumir assim. Impossível deixar o São Paulo de fora.
O mercado de janeiro mostrou a divisão dos clubes em novas camadas sociais. Hoje, há um grupo de compradores: Flamengo e Palmeiras. Outro de investimento intermediário e conquistas expressivas: Grêmio, Cruzeiro e Corinthians. O São Paulo mostrou ser comprador em janeiro, mas não ganha nenhum título há seis anos. Parecem ser os seis mais poderosos. Os candidatos aos troféus nacionais e internacionais de 2019.
Os outros seis gigantes precisam definir seus lugares. Atlético e Internacional estão mais perto disso. O Santos estacionou em receita desde os tempos de Neymar. Virou vendedor até para o mercado brasileiro: Lucas Lima para o Palmeiras; Gabriel perdido para o Flamengo… O Botafogo caminha passo a passo, mas sabe que, em tese, só poderá voltar a brigar pelos títulos mais importantes daqui a algumas temporadas. Fluminense e Vasco parecem olhar para o passado e necessitam descobrir soluções para o futuro.
Pode ser rápido. Há quatro anos, o Palmeiras salvou-se de seu terceiro rebaixamento na última rodada do Brasileirão. Hoje, luta por todos os títulos.
O desenho descrito acima é real. Não é definitivo.
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