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Coluna do PVC

Gestor do Ituano, Juninho diz: "Acredito em projetos como o nosso"

PVC

04/02/2019 14h31

Juninho Paulista nasceu Osvaldo Giroldo Junior e cresceu jogador no Ituano. Descoberto durante o Paulista de 1993, num período em que se criticava os estaduais, mas descobriam-se jogadores, foi campeão mundial pelo São Paulo no mesmo ano e pela seleção nove anos mais tarde. Quando apareceu, a desconfiança já existia sobre jogadores com sua estatura, 1,68 m. Mesmo assim, foi gigante no Ituano, São Paulo, Palmeiras, Flamengo, Atlético de Madrid, Middlesbrough da Inglaterra… Há dez anos, comanda o futebol de Itu, onde tudo é grande, menos a torcida. A quarta menor média de espectadores do estado em 2018 é também o terceiro clube no ranking de títulos paulistas no século 21. Só o Corinthians e o Santos ganharam mais. Nesta conversa, Juninho explica por que desafia a lógica e lança 50 jogadores no time principal no interior do Brasil.

PVC – Como se sente o gestor do Ituano no dia seguinte a aplicar 5 x 1 no Santos?
JUNINHO –
Ah, é uma satisfação. O sentimento é de dever cumprido. A gente trabalha aqui com muito mais dificuldade do que êxito e neste dia você percebe que o trabalho está funcionando.

PVC – Por que há dez anos você decidiu investir na gestão de um clube de futebol?
JUNINHO –
Quando eu parei de jogar, queria me manter perto do futebol. Mas não queria me manter em profissões que mantivessem as mesmas características da vida de jogador. Ser treinador, por exemplo. Depois de tanto tempo, a gente não quer mais ficar longe da família. Pensei num clube que pudesse administrar. Colocar em prática tudo o que eu aprendi, formar atletas. Foi rápido, porque apareceu a oportunidade no Ituano, clube em que joguei. Talvez se fosse em outro lugar eu demorasse um pouco mais, me preparasse mais tempo.

PVC – Me chamou a atenção que no ano passado vocês já haviam colocado 40 jogadores no time principal. Hoje o número está perto de 50.
JUNINHO –
Não se faz jogador com estrutura pífia. Hoje nossa estrutura de formação de jogadores é parecida com a dos times grandes. Quando começamos a montar nossa base, por 2012, nós contratávamos jogadores e terminávamos a formação deles aqui. Hoje, temos jogadores que pegamos desde o início do processo. Como Martinelli (Juninho se refere ao atacante que se tornou o mais jovem a atuar com a camisa do Ituano, em 2018).

PVC – Você tem 100% dos contratos ou tem participação de agentes de jogadores?
JUNINHO –
A gente tem compartilhamento. Alguns jogadores que nasceram aqui a gente faz parceria de 20%.

PVC – Você investe para formar jogadores para o time, mas o futebol sempre tira adolescentes de outras atividades. Você pensa nisso?
JUNINHO –
Sim, claro. A gente pensa também. Há o bem social. Veja, coloquei meu dinheiro aqui, porque julguei que pode ser rentável. Bem administrado, o futebol pode ser rentável. Mas há outras questões também. A gente pensa aqui em ter gente trabalhando feliz. São humanos, não mercadorias. Temos hoje mais de cem atletas. Uma porcentagem deles não vai se tornar profissional. Então, trabalhamos para que tenham uma formação profissional. Combatemos a depressão infanto-juvenil, prestamos atenção a tudo isso.

PVC – Normalmente me refiro a você como presidente do Ituano, mas nunca sei explicar a estrutura jurídica.
JUNINHO –
Eu sou gestor. Minha empresa tem um contrato que, atualmente, vai até 2030.

PVC – O que você imagina para o Ituano num país em que os clubes do interior não têm calendário anual?
JUNINHO –
Eu imagino ser um time de elite da Série B. Uma equipe que dispute posições acima do décimo lugar na Série B. Mas aí você sabe como é o futebol. Uma hora pode dar certo e subir para a Série A. E ser também um time presente sempre na Série A-1 do Campeonato Paulista.

PVC – Como o Middlesbrough foi numa época na Inglaterra?
JUNINHO –
Acho que o Middlesbrough foi mais do que isso. Ele chegou a se estabilizar como time médio de Premier League. Hoje está lutando para voltar à Primeira Divisão inglesa.

PVC – Você acredita em outros projetos no Brasil como o do Ituano?
JUNINHO –
Eu acredito nisso. Não posso falar sobre outras federações, mas sobre CBF e Federação Paulista. Hoje a gente vive com mais de 50% da receita vindo das cotas do estadual. Se os estaduais acabarem, pode ficar mais difícil. Mas acredito, sim. Hoje, com alguma mudança da lei, temos mais proteção em relação à formação. Antes, revelávamos um jogador aqui e ele saía para a Ponte Preta. Se você olhar, em Votuporanga, o Votuporanguense está crescendo. Tem apoio da população. Em Piracicaba, tem bastante gente acompanhando o clube. O estadual de São Paulo é diferente. Pensar que isso possa acabar dá uma dor no coração. Se acabar, vai ser complicado.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.