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Coluna do PVC

O grande desfalque da Copa do Mundo feminina

PVC

07/05/2019 09h26

Marta é a melhor jogadora de futebol do mundo, eleita pela Fifa pela sexta vez em 2018.

No mesmo ano, a revista France Football entregou o tradicional prêmio Bola de Ouro à norueguesa Ada Hegerberg.

Tricampeã da Champions League pelo Lyon, autora de um dos gols da vitória do título do ano passado, contra o Wolfsburg, Hegerberg não apareceu na lista de convocadas da Noruega para a Copa do Mundo, que começará na França no dia 7 de junho.

Já se esperava sua renúncia, mas não deixou de ser um choque na Noruega. Hegerberg decidiu não disputar a Copa do Mundo, como forma de protesto e de levantar bandeira pela igualdade de gênero.

Em 2017, Hegerberg já havia anunciado que não disputaria o Mundial se não se igualassem as condições da seleção feminina com as que recebem os homens do futebol da Noruega.

"O futebol é o esporte mais importante da Noruega para as meninas e é assim há muitos anos, mas as meninas não têm as mesmas oportunidades do que os meninos."

A Noruega foi campeã mundial em 1995 e chegou quatro vezes às semifinais.

O Brasil foi vice-campeão em 2007 e terceiro colocado em 1999.

Como na Noruega, há muito tempo discutimos a falta de condições adequadas às meninas brasileiras. Falta de apoio não apenas das federações e confederações. O nosso olhar é enviesado. Entregamos bolas de futebol de presente para meninos, levamos nossos filhos às escolinhas, mas são poucos os pais que fazem o mesmo com suas filhas. Por mais que exista evolução, é tímida.

Não só no Brasil. Dos países latinos campeões mundiais entre os homens, só a França já chegou à quarta colocação de uma Copa do Mundo, em 2011. Itália, Espanha, Argentina, Uruguai são ainda mais tímidos do que o Brasil, embora a Espanha evolua a olhos vistos, com grandes equipes do Atlético de Madrid, campeão nacional, e do Barcelona, que hoje pode se tornar o primeiro clube da história a alcançar as finais da Champions League masculina e feminina numa mesma temporada.

A França tem o melhor time do planeta hoje, o Lyon. O Paris Saint-Germain, onde joga Formiga, histórica craque brasileira, preocupa-se com o departamento feminino, embora sem investir nem perto da quantia gasta com os homens.

É absurdo lembrar que Formiga e Marta escondiam-se para não apanhar dos irmãos, quando eram vistas com a bola no pé.

Surpreendente é pensar que, na Noruega, a segunda melhor jogadora do planeta se ressente pela falta de condições adequadas.

Estará fora da Copa do Mundo como protesto para que as meninas possam ter as mesmas condições de trabalho dos meninos.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.