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Coluna do PVC

Fábrica de vilões, pênaltis condenam quem cobra e quem não cobra

PVC

18/07/2019 11h51

Diego deixou o Maracanã afirmando ter treinado a cobrança no meio do gol, por ter informação de que o goleiro Santos costumava escolher um lado e cair. Bateu fraco, segundo ele, para ter precisão, e alto, para evitar que Santos alcançasse a bola com o pé. A cobrança foi bizarra, porque Santos apenas levantou os braços e espalmou a bola endereçada exatamente para suas mãos.

Você já viu a cobrança de Ronaldão pelo São Paulo, na decisão por pênaltis contra o Newell's Old Boys, na final da Libertadores de 1992 (veja o vídeo aos 4'08")?

Ronaldão chutou mais forte, mas só não foi vilão, e ninguém se lembra de sua cobrança bizarra, porque o São Paulo venceu.

Diego cobrou 14 pênaltis desde que chegou ao Flamengo e perdeu cinco. Seu desperdício é de 35%, o que indica que jamais deveria ter sido escalado para a disputa.

O camisa 10 da Gávea cobrou pessimamente e é um dos responsáveis pela eliminação, assim como o sistema defensivo que sofreu gol de Rôni, em jogada anunciada antes da partida, como Vitinho e Éverton Ribeiro, que também desperdiçaram suas cobranças.

A fábrica de vilões escolheu um só: Diego.

No Beira-Rio, há outro vilão eleito: Dudu.

Desde sua chegada ao Palmeiras, em 2015, houve onze disputas por pênaltis. Dudu estava em campo em oito, mas só participou de quatro. Das quatro vezes, perdeu pênalti contra o Nacional, de Montevidéu, no Torneio do Uruguai, e contra o Corinthians, na final do Paulista de 2018. Na semifinal da Copa do Brasil de 2015, contra o Fluminense, tinha condição de cobrar. Não cobrou.

Pouca gente se lembra e o levantamento do jornalista Rafael Bullara ajuda a entender por que Dudu não cobra: seu aproveitamento é ruim. Mesmo que possa ser lembrado de que quis cobrar e marcou em jogos de Campeonato Paulista, contra o Mirassol, em 2018, e contra o Novorizontino, em 2019. Jogo resolvido, quis deixar sua marca e converteu.

Alguém pode questionar se um jogador profissional, que recebe perto de R$ 1 milhão, tem direito a essa opção, de cobrar ou não cobrar. Tem de assumir e pronto? Ou o técnico tem de entender que o risco de perder é maior?

Se o Flamengo perdeu a Copa do Brasil de 2017, entre outras razões, porque Diego perdeu pênalti contra o Cruzeiro, por que tinha de cobrar contra o Athletico Paranaense?

Antes que alguém use a nefasta expressão "passar pano", típica de quem analisa com o fígado, entenda-se que aqui há uma ponderação sobre as razões que levam ao erro. Escalar quem cobra mal é um desses motivos.

Zico perdeu pênalti em disputas assim, pelo Flamengo, contra o Vasco, em 1976. No ano seguinte, Tita desperdiçou. Zidane deixou de cobrar por ser expulso antes do fim do jogo. Sócrates perdeu na disputa contra a França. Rivelino não cobrou na semifinal do Brasileiro de 1976, jogo da invasão corintiana, em que o Fluminense foi eliminado na disputa por penais.

Cada um destes casos está na história.

Diego e Dudu ficarão também.

Mas serão lembrados por muitos outros bons momentos também.

O Palmeiras foi eliminado pelo Internacional, porque jogou mal.

O Flamengo caiu contra o Athletico Paranaense e foi para os pênaltis, porque não conseguiu vencer em noventa minutos.

 

 

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.