Uma tragédia está perto de acontecer no futebol brasileiro
O ônibus do Cruzeiro recebeu pedradas nas duas últimas visitas ao estádio Independência.
Doze torcedores foram presos em Contagem, no domingo de clássico mineiro.
No dia 20 de julho, há pouco mais de duas semanas, portanto, o Flamengo foi abordado no saguão do aeroporto do Galeão e o meia Diego hostilizado por um grupo de torcedores uniformizados.
Sábado, 3 de agosto, outra facção uniformizada levou faixa ao portão da Academia do Palmeiras com a frase: "Ninguém morreu ainda."
Mesmo que a Mancha tenha divulgado manifesto dizendo que as frases relativas a mortes eram repetições de entrevistas coletivas de Felipão, e não ameaças à vida das pessoas, o tom do protesto levou a pensar diferente. E se fez gente equilibrada perceber uma ameaça de morte, evidentemente pode levar desequilibrados a atos violentos individuais.
Em maio de 2018, a Academia do Sporting, em Alcochete, na região metropolitana de Lisboa, foi invadida por 41 torcedores encapuzados e armados com tochas, que entraram na propriedade do clube para agredir jogadores. Um vídeo mostrava um dos líderes do movimento gritando "Jorge Jesus é meu." O então presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, foi um dos processados. É apontado como autor moral dos ataques, por ter se envolvido numa guerra pública de declarações e acusações aos jogadores e à comissão técnica nas semanas anteriores.
É quase consenso que seu discurso inflamado ampliou a revolta da facção Juve Leo, principal responsável pelo ataque. Daquele dia até hoje, 44 pessoas foram processadas criminalmente. As acusações foram de sequestro, ofensas à integridade física qualificada e ameaça agravada, classificada como terrorismo. Dos encapuzados, 37 foram presos preventivamente.
A diferença entre Portugal e Brasil é que, lá, olha-se para a Justiça e se enquadra os criminosos do futebol em crimes descritos na legislação. Sequestro e terrorismo, por exemplo. Enquanto, no Brasil, há décadas afirma-se que não há legislação específica para os crimes de torcedores. Ora, não há legislação específica, porque não é preciso ser específico quando há sequestro, terrorismo, ameaça de morte ou homicídio. Deveria bastar um bom promotor, um juiz correto e uma Justiça que ajudasse a Polícia a manter presos os que vão para a cadeia.
O exemplo de Bruno de Carvalho também é simbólico. Ele não é agressor nem mandante, mas seu discurso é apontado como responsável pelo ódio.
O resultado prático da agressão foi o pedido de rescisão de contrato unilateralmente por nove jogadores agredidos. O novo presidente conseguiu manter três.
O Brasil de hoje é um barril de pólvora. O futebol também é, há décadas, mas com casos de violência dentro dos estádios diminuídos. O risco iminente não é de uma briga de torcidas, mas de agressões físicas ainda mais graves a jogadores e treinadores, apontados sempre como os vilões, como se os campeonatos fossem filmes de mocinho e bandido.
Ninguém quer perder. Todos querem trabalhar em paz. Se ganham muito ou pouco, se produzem menos do que deveriam é uma medida que as diretorias devem ter na hora de contratar e demitir. Protestar, gritar "Fora, fulano", tudo isso é legítimo. Desde que respeitados os ambientes públicos, os locais de trabalho e a integridade física das pessoas.
A linha que hoje separa os protestos da violência está muito tênue.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.