VAR à inglesa nos fará lembrar a origem do futebol
A cada vez que se escuta a frase "tá chato" aparece à nossa frente o maior risco do futebol: ser menos popular. Durante décadas, afirmamos que o esporte mais popular do planeta tinha esse efeito incrível sobre as pessoas, por todos conhecerem as regras.
Elas quase não mudavam, tirando evoluções claras e óbvias. Como a alteração da regra do impedimento, em 1925, seu ajuste, em 1990, e a proibição de os goleiros apanharem com as mãos as bolas recuadas, em 1992.
De repente, ninguém mais sabe o que é ou não é. O gol de Carli, do Botafogo, com a bola desviando em seu braço, produziu comentário indignado numa rádio carioca: "Ele não teve a intenção de levar o braço à bola."
Só que a regra mudou dia 1 de julho. Há dez meses, quando o River Plate se classificou com gol de braço de Santos Borré contra o Grémio, valia.
Este é um problema e outro é esquecermos que árbitros são treinados há 125 anos para interpretar jogadas na velocidade natural. Hoje, a interpretação do campo é re-interpretada na cabine do VAR.
Berço da regra do jogo, a Inglaterra desafia a estúpida decisão do International Board de mudar o conceito. Até a Copa do Mundo, prevalecia o slogan "mínima interferência, máximo benefício."
O VAR nasceu para minimizar a polêmica. Está aumentando. Daí que os ingleses querem a participação apenas nos erros flagrantes. Não é: "Vai lá rever que você pode ter errado." Tem de ser: "Vai lá se duvidar, mas estou te avisando que você errou."
A regra do jogo nasceu em Cambridge, em 1863, sem a figura do árbitro. Depois, os capitães decidiam entre si as polêmicas. Só em 1894, 31 anos depois da consolidação das regras, o árbitro passou a ter o poder central.
Seguiu sendo um jogo de cavalheiros em que havia um senhor com a missão de dirimir as dúvidas. De tanto não entendermos que a regra pressupõe o espírito esportivo, que o futebol só virou grande negócio porque nasceu do fair play, foi necessário criar outro meio de dirimir dúvidas: o vídeo.
Mas a regra segue tendo o mesmo princípio. Quase tudo é interpretativo. Ao vídeo, tem de restar a revisão dos erros flagrantes. Foi preciso que os ingleses mudassem o protocolo do VAR para nos lembrar da origem da regra.
E, na verdade, não percebemos ainda. Mas a Inglaterra vai escancarar que o VAR é para acabar com a polêmica. Para corrigir o erro óbvio. Assim, a Premier League salvará o VAR. Salvará o futebol.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.