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Coluna do PVC

VAR à inglesa nos fará lembrar a origem do futebol

PVC

12/08/2019 13h21

A cada vez que se escuta a frase "tá chato" aparece à nossa frente o maior risco do futebol: ser menos popular. Durante décadas, afirmamos que o esporte mais popular do planeta tinha esse efeito incrível sobre as pessoas, por todos conhecerem as regras.

Elas quase não mudavam, tirando evoluções claras e óbvias. Como a alteração da regra do impedimento, em 1925, seu ajuste, em 1990, e a proibição de os goleiros apanharem com as mãos as bolas recuadas, em 1992.

De repente, ninguém mais sabe o que é ou não é. O gol de Carli, do Botafogo, com a bola desviando em seu braço, produziu comentário indignado numa rádio carioca: "Ele não teve a intenção de levar o braço à bola."

Só que a regra mudou dia 1 de julho. Há dez meses, quando o River Plate se classificou com gol de braço de Santos Borré contra o Grémio, valia.

Este é um problema e outro é esquecermos que árbitros são treinados há 125 anos para interpretar jogadas na velocidade natural. Hoje, a interpretação do campo é re-interpretada na cabine do VAR.

Berço da regra do jogo, a Inglaterra desafia a estúpida decisão do International Board de mudar o conceito. Até a Copa do Mundo, prevalecia o slogan "mínima interferência, máximo benefício."

O VAR nasceu para minimizar a polêmica. Está aumentando. Daí que os ingleses querem a participação apenas nos erros flagrantes. Não é: "Vai lá rever que você pode ter errado." Tem de ser: "Vai lá se duvidar, mas estou te avisando que você errou."

A regra do jogo nasceu em Cambridge, em 1863, sem a figura do árbitro.  Depois, os capitães decidiam entre si as polêmicas. Só em 1894, 31 anos depois da consolidação das regras, o árbitro passou a ter o poder central.

Seguiu sendo um jogo de cavalheiros em que havia um senhor com a missão de dirimir as dúvidas. De tanto não entendermos que a regra pressupõe o espírito esportivo, que o futebol só virou grande  negócio porque nasceu do fair play, foi necessário criar outro meio de dirimir dúvidas: o vídeo.

Mas a regra segue tendo o mesmo princípio. Quase tudo é interpretativo. Ao vídeo, tem de restar a revisão dos erros flagrantes.  Foi preciso que os ingleses mudassem o protocolo do VAR para nos lembrar da origem da regra.

E, na verdade, não percebemos ainda. Mas a Inglaterra vai escancarar que o VAR é para acabar com a polêmica. Para corrigir o erro óbvio. Assim, a Premier League salvará o VAR. Salvará o futebol.

 

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.