Por que o Palmeiras não pretende trocar de técnico agora
O Palmeiras não vai trocar de técnico agora.
O advérbio de tempo é necessário no futebol brasileiro.
Porque este momento pode ser diferente da próxima segunda-feira ou daqui a duas semanas, dependendo da seqüência do Campeonato Brasileiro. Mas o fato, agora, é que Felipão é, e continuará sendo técnico do Palmeiras.
Há duas razões para esta decisão da diretoria, neste momento.
Diferentemente do que aconteceu com Roger Machado e Marcelo Oliveira, dispensados na mesma noite de derrotas para o Fluminense e para o Nacional de Montevidéu, a direção entende que Felipão tem o comando do grupo de jogadores e mantém a mesma característica que definiu sua contratação: liderança.
Ninguém nunca imaginou Felipão como o estrategista e o técnico do repertório vasto. Justamente o que faltou para transformar o jogo contra o Grêmio, num segundo tempo comprometido, também, por seus erros de substituições. Trocar Willian, que perdeu dois gols ou criou duas chances, por Deyverson significava a tentativa de ter alguém na área e a certeza de um jogador fora da disputa para levar a bola até ela.
Deyverson recebia redondo e devolvia quadrado e o Palmeiras passou a jogar mais pelo centro, menos pelos lados, do que quando criava oportunidades, no primeiro tempo.
Mesmo assim, Felipão não perde, no entendimento da diretoria, a capacidade de mobilizar seus jogadores.
Há diferenças, no entanto, no trabalho do ano passado para este ano.
Quando chegou, em 2018, Felipão tinha seus olhos brilhando, como se tivesse redescoberto o clube que deixou em 2012. Se em sua segunda passagem pelo Parque Antarctica, aquela do título da Copa do Brasil e do time à beira do rebaixamento, Felipão precisava ser um misto de técnico e presidente, pelo vazio de poder, ao retornar em 2018 se deparou com uma estrutura que lhe permitia ser apenas o técnico. Com analistas de desempenho e diretores executando suas funções, Felipão parecia se beliscar para ter certeza de que, sim, precisava apenas treinar o time.
A lua de mel levou ao título brasileiro, mas terminou como todo período de núpcias. Um dia se chega à rotina. A dúvida logo depois de seu retorno, descrita por este colunista na Folha, era se estaria disposto a se encontrar com jogadores muito menos comprometidos e muito mais atentos aos seus aparelhos de telefone celular, do que nos anos 1990.
A resposta oferecida com o título brasileiro de 2018 foi: sim, ele estava. Aos poucos, foi se incomodando com jogadores que não se cobram com olhos nos olhos e com recados que chegam de agentes, dizendo que fulano não vai correr para ciclano. É preciso paciência para lidar com este novo enredo dos vestiários.
A direção entende que ele tem a energia necessária para virar esse jogo, como virou em outros momentos, seja em 1998, ganhando a Copa do Brasil quando estava quase demitido, em 2000, quando remontou o Palmeiras depois do anúncio da saída da Parmalat, em 2012, ganhando a Copa do Brasil com três presidentes em dois anos, ou em 2018, com o título brasileiro numa virada de oito pontos de distância.
A diretoria entende que a liderança persiste e não é hora de mudar de técnico.
Há dúvidas concretas se, de fato, pode haver uma re-virada no Brasileirão.
Mas o caminho mais correto sempre deveria ser o de terminar o ano e avaliar o trabalho.
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