Topo

Coluna do PVC

Cristiano Ronaldo faz gol 700 e ameaça Pelé. É verdadeiro ou falso?

PVC

15/10/2019 05h08

Portugal perdeu para a Ucrânia por 2 x 1 nas eliminatórias da Eurocopa e o gol português foi marcado por Cristiano Ronaldo.

O número 700 do craque da Juventus foi também o de número 95 pela seleção, o que o deixa apenas atrás do iraniano Ali Daei, como maior goleador de todos os tempos por uma seleção nacional.

Nem mesmo com a absurda conta oficializada pela CBF, que inclui jogos do Brasil contra clubes e combinados, Pelé alcança Cristiano. Com os jogos extra-oficiais, Pelé tem 92 gols pela seleção, três a menos do que o gajo. Usando a estatística da Fifa, Pelé marcou 77 vezes em 92 partidas com a camiseta amarela.

Mas há outra conta que os europeus adoram fazer, que tem valor pelo rigor, mas que desconsidera a maneira como se davam as carreiras dos atletas em outros períodos da história.

Por esta conta, Cristiano Ronaldo está, com seus 700 gols, a apenas 67 de atingir a marca total de Pelé.

Porque dos 1282 anotados pelo Rei, 767 foram em partidas oficiais ou amistosos da seleção brasileira contra seleções principais de outros países, como recomenda a estatística da Fifa.

Pelé é o único jogador da história com uma lista completa de mais de mil gols a partir do momento em que se tornou profissional.

Romário tem também uma lista de 1002 gols, na qual contabiliza tudo, desde os infantis do Olaria. Porque a lista está explicada, valeu a festa do Baixinho, em 2007. Desde que se entendas as diferenças das duas relações.

Verdade que Pelé inclui em sua listagem os tentos marcados pela seleção do exército, mas de um período em que já havia se profissionalizado no Santos. Inclui também dados de excursões do Santos, pela África, jogos como o que fez em 1969 e parou uma guerra em Biafra. O historiador José Paulo Florenzano desmente a tese de ter parado a guerra. Gerações contam que sim.

Do mesmo modo, alguém terá o direito de dizer que as partidas disputadas em longas viagens pelo interior do Brasil, pela Europa e África não tinham importância.

Mas era outra época. Importavam e eram parte do calendário do Santos.

Daí que simplesmente desconsiderar 515 gols em partidas amistosas é recontar a história de Pelé e a importância de quem o viu em ação. A visão do mundo era outra, as tabelas de jogos diferentes.

Pode até ser justo fazer a separação, mas os gols de Pelé estão listados, com cada jogo exemplificado. Cada um dos gols existiu.

Cristiano Ronaldo pode chegar aos 767 gols, empatar a contabilidade das partidas oficiais e fazer muita gente preferir seus índices oficiais.

 

Mas não dá para recontar os gols de Pelé nem realinhar a história do futebol. Não se pode desconsiderar como a vida funcionava nos anos 1950 e 1960. Seria como anular os feitos de Dom Pedro II, sob o argumento de que nunca foi Presidente da República. Era o Imperador.

No caso de Pelé, o Rei.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.