Técnico estrangeiro virou obsessão, e Inter retrata nova realidade
O Internacional demitiu Odair Hellmann na quinta-feira (10) e saiu atrás de três hipóteses de técnico: Tiago Nunes, Roger Machado ou um estrangeiro.
Repare que os dois primeiros têm nome e sobrenome. A terceira categoria parece mais aleatória: o estrangeiro.
É nome de música de Caetano Veloso:
"E eu, menos a conhecera, mais a amara?
Sou cego de tanto vê-la, de tanto tê-la estrela
O que é uma coisa bela?"
O que é uma coisa bela no futebol brasileiro?
O Flamengo é. Obviamente é.
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Mas torcedores, jornalistas e dirigentes confundem-se com o que se busca. Então, o Internacional vai à Argentina em busca de uma ideia, que, ao menos à distância, parece meio vaga. Pode ser Eduardo Coudet, brilhante, obsessivo pela posse de bola, mas que gosta das missões cumpridas na defesa e no ataque, a que chama intensidade. Foi campeão argentino pelo Racing, hoje é sétimo colocado.
Pode ser Sebastian Beccacece, sucesso no Defensa y Justicia, vice-campeão argentino, eliminou o São Paulo na Copa Sul-Americana. Hoje, décimo-segundo lugar no Campeonato Argentino, como treinador do Independiente.
Pode ser Jorge Almirón, brilhante vice-campeão da Libertadores 2017 com o Lanús. Tantos colorados torceram por ele. Depois, não deu certo no Atlético Nacional, da Colômbia, nem no San Lorenzo, demitido antes do final da participação na Libertadores, depois de vencer o Palmeiras no Nuevo Gasometro e perder no Allianz Parque.
Também pode ser Ariel Holan, de fantástica campanha pelo Independiente, campeão da Copa Sul-Americana de 2017, que não voltou a trabalhar depois, e teve problema de relacionamento relatado pelo zagueiro Victor Cuesta, com quem trabalhou.
É provável que o Internacional não esteja negociando com os quatro nomes, mas o fato de explodirem ao mesmo tempo no noticiário denuncia a nossa falta de repertório. A ideia é… um estrangeiro.
Qual?
O sucesso de Jorge Jesus e Jorge Sampaoli, no Flamengo e no Santos, têm a ver com a capacidade indiscutível dos dois. Ninguém discute que Guardiola daria certo no Brasil. Mas se trouxer o português Marco Silva, que briga contra o rebaixamento no Everton, pode dar errado. O pré-requisito não pode ser a carteira de identidade com o local de nascimento apontando para fora do Brasil.
Nesta década, oito dos treze maiores clubes do Brasil tiveram técnicos estrangeiros.
O Internacional teve Jorge Fossatti e Diego Aguirre, o Flamengo teve Reinaldo Rueda e Jorge Jesus, o Santos teve Jorge Sampaoli, o São Paulo teve Edgardo Bauza, Juan Carlos Osorio e Diego Aguirre, o Palmeiras ficou com Ricardo Gareca, o Cruzeiro com Paulo Bento, o Atlético-MG com Diego Aguirre, o Athletico Paranaense com Miguel Angel Portugal e Lothar Matthaus. O Corinthians não teve nesta década, provavelmente porque se frustrou com a experiência de Daniel Passarella na década passada.
As histórias de sucesso atual apontam para a necessidade de olhar para o mercado internacional, não para a obrigação de contratar qualquer estrangeiro. Competência não tem nacionalidade.
Jorge Jesus e Jorge Sampaoli fazem muito bem ao futebol brasileiro, por uma razão óbvia: são bons!
Todo técnico estrangeiro bom é bem-vindo.
Todo dirigente que determinar uma fórmula pronta está condenado. Vai contratar os veteranos, porque Felipão foi campeão, vai efetivar um jovem, porque Jair Ventura levou o Botafogo à Libertadores, vai apostar num estrangeiro, porque Jorge Jesus está prestes a ser campeão brasileiro.
O futebol precisa de muito mais conhecimento do que seguir a tendência.
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