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Coluna do PVC

O Flamengo de 1981 na memória de um garoto de 12 anos

PVC

13/12/2019 09h58

Sábado de manhã, 12 de junho de 1981.

Tinha treino e o professor era dos bons: Bauer.

O monstro do Maracanã, craque da Copa do Mundo de 1950, tinha um grupo de garotos que tentava ensinar a jogar futebol no campão, como se chamava o terreno de terra batida nos fundos do Continental Parque Clube, zona oeste de São Paulo, pertinho de Osasco.

O grupo de garotos só falava do jogo que aconteceria a partir da meia-noite, no Japão.

Das muitas coincidências entre o Flamengo de 2019 e o de 1981, uma é a de que naquele ano não havia horário de verão. Então, o fuso horário era de doze horas entre Tóquio e Brasília.

Meia-noite em ponto, a bola rolou entre o incrível Flamengo, com sua camiseta branca de mangas compridas rubro-negras, criada pela Adidas em 1980 para substituir o tradicional manto branco com faixa vermelha e preta na altura do peito. O Liverpool jogava todo de vermelho, como também deve acontecer em Doha, se houver o encontro.

O Liverpool tinha seis jogadores ingleses: Neal, Thompson, Lee, McDermott, Johnston e Ray Kennedy, não confundir com Alan Kennedy, autor do gol da vitória por 1 x 0 sobre o Real Madrid. O goleiro era do Zimbábue, Bruce Grobelaar, mais tarde envolvido em máfia de apostas e acusado de corrupção.

O titular da camisa 1 na final da Copa dos Campeões da Europa, em maio, era Clemence. Famoso para os garotos de 12 por ter sido o goleiro a sofrer o gol de Zico, na primeira vitória do Brasil em Wembley, 1 x 0 sobre a Inglaterra também em maio daquele ano.

Os craques ingleses eram escoceses: Kenny Dalglish e Graeme Souness. Já se sabia que enfrentariam o Brasil em 18 de junho do ano seguinte, quando a seleção de Telê Santana enfrentaria a Escócia.

Naquele dezembro de 1981, por mais que a memória das pessoas descarte, também se dizia que o Flamengo estava jogando mais do que a seleção de Telê Santana. Em agosto o Brasil empatou com o Chile num jogo chocho e, em outubro, último amistoso do ano, ganhou da Bulgária em Porto Alegre, estreia de Leandro com a camisa amarela, também num duelo meio sem graça.

O Flamengo, não. Campeão da Libertadores e carioca diante de 168 mil torcedores pagantes no clássico contra o Vasco que ficou na história como "o jogo do ladrilheiro", o Flamengo era indiscutível.

Naquele 13 de dezembro de 1981, entrou em campo pela terceira vez com sua formação clássica: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. A única vez do time clássico vestido de branco, porque contra Volta Redonda, Vasco e São Paulo, este já em 1982, sempre vestiu rubro-negro.

No primeiro tempo, já estava 3 x 0, show de Zico, um gol de Adílio e dois de Nunes, que confirmava ser o artilheiro das decisões.

Na memória afetiva do garoto de 12 anos, aquele foi o maior time da vida.

O homem maduro viu coisas assim, tão espetaculares, como o Barcelona de Messi, o Real Madrid de Zidane, o Palmeiras dos 102 gols… Mas um menino de 12 anos nunca viu nada igual, simplesmente porque não viveu o suficiente para comparar coisas desiguais.

 

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.