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Coluna do PVC

Sacchi exclusivo: "Brasil ganharia Copa 2014 se futebol fosse individual."

PVC

20/05/2015 11h32

Arrigo Sacchi foi o criador do maior time do Milan de todos os tempos. No final dos anos 80, foi revolucionário, por adotar a marcação por zona na rígida cultura tática italiana, por fazer seu time jogar no ataque e dar espetáculo e conquistar duas Ligas dos Campeões consecutivas. Nunca mais nenhum time conseguiu isso, nem o Barcelona de Guardiola.

Semana passada, Arrigo Sacchi lançou seu novo livro. Chama-se "Calcio Totale" e é sua autobiografia. O livro, à venda nas principais livrarias da Europa nasceu geraldo polêmica, porque na entrevista de lançamento o autor disse torcer pela Juventus na Champions League por julgar que o último título italiano, com a Internazionale de José Mourinho foi uma vergonha. "Ser campeão sem ter nem sequer um titular italiano é uma vergonha", disse Sacchi.

Sacchi atendeu gentilmente às perguntas deste blog por email. Respondeu sobre a polêmica dos estrangeiros, sobre seu time histórico e sobre as crises do futebol brasileiro e italiano. Ele não julga o Brasil em crise, mas acha que não vencerá a Copa enquanto não praticar futebol mais coletivo.

PVC – Seu livro se chama Calcio Totale. Em que sentido você pensa ter contribuído para sedimentar este conceito no futebol mundial?
SACCHI – Eu deixo para a crítica a tarefa de dizer como o meu trabalho foi importante para mudar a mentalidade do futebol. Eu posso dizer que eu sempre acreditei em um futebol feito de colaboração e sinergia. Meu futebol é um futebol que é jogado com a participação de todos, com o sacrifício. Estes são os princípios em que sempre acreditei, que para mim é chamado de "Calcio Totale", futebol total.
PVC – O seu Milan campeão da Europa em 1989 e 1990 pode ser ranqueado de que maneira entre os times de todos os tempos?

SACCHI – Existem documentos que podem explicar esta ideia melhor do que eu. A revista "World Soccer" atribuiu ao meu Milan o quarto lugar no ranking dos mais grandes times de futebol de todos os tempos. "France Football" elegeu o Milan 1988-90 melhor time dos últimos 70 anos. Outros grandes jornais europeus compararam o meu fantástico time com os maiores de todos os tempos. Isto significa que o trabalho realizado nestes anos foi bem feito.
PVC – Li que você falou sobre o excesso de estrangeiros e sobre a vergonha de a Inter ter vencido a Champions sem italianos. Qual é a medida?

SACCHI – Eu acredito que o futebol deve sempre manter a identidade do país em que você joga. Se você exagerar com a inclusão de jogadores estrangeiros, você acaba perdendo as características do próprio futebol, da sua cultura. Não estamos falando de um esporte feito apenas de técnica, mas de um filosofia geral. A inteligência não tem um passaporte. Mas se lermos a história do futebol, os times que ganharam troféus importantes sempre tiveram uma base nacional forte, como o meu Milan, o Ajax, o Barcelona, o ​​Liverpool.
PVC – A Itália caiu na fase de grupos das duas últimas Copas. Por que o futebol do seu país está em crise?

SACCHI – Não é por acaso que a Itália falhou os dois últimos Campeonatos Mundiais. Há uma teoria popular que diz que "três pistas são uma prova." A Itália agora atingiu duas pistas, ainda tem uma chance. Mas este problema está relacionado com os demasiados estrangeiros que jogam na Série A. Então, você realmente arrisca perder a identidade nacional.
PVC – Como você vê o futebol brasileiro depois dos 7 x 1 da Alemanha?

SACCHI – Desejo para Dunga conseguir grandes resultados com a seleção brasileira, porque é um homem do futebol, um trabalhador e foi um grande campeão dentro do campo. Se o futebol fosse um esporte individual, o Brasil teria facilmente vencido a Copa do Mundo de 2014, porque tinha individualidades extraordinárias. Mas o futebol é um esporte de equipe e para o Brasil há um ano estava faltando o espírito de sacrifício, não tinha a capacidade de tirar o melhor de todas as individualidades. O Brasil não conseguiu desempenhar um "Calcio Totale". Por isso que não ganhou a Copa.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.