Uma noite com Tite e nossa incrível incapacidade de enxergar o jogo
Tite é muito melhor técnico hoje do que era dez anos atrás, como deveria acontecer com qualquer profissional que exerça sua atividade durante uma década inteira.
Mas não é assim com todo mundo. Não é com a maioria.
A terça-feira à noite evidenciou como o técnico do Corinthians, virtual campeão brasileiro, evoluiu não só na última década, como desde a última passagem pelo Corinthians, quando foi campeão mundial de 2012. Quase no final da conversa proporcionada pela editora Grande Área, como pano de fundo os livros de José Mourinho e Pep Guardiola, e já com uma plateia sedenta e composta por cerca de 200 pessoas, Tite olhou para o jornalista Alexandre Lozetti, do GloboEsporte.com, e falou sobre uma imagem.
A imagem abaixo, capturada pelas câmeras da TV Globo, reproduzida pelo repórter no portal da Globo.
Repare como os dez jogadores do Corinthians estão postados num espaço de vinte metros. Estão todos na imagem, todos no campo de defesa — e no entanto o Corinthians tem o melhor ataque do Campeonato Brasileiro.
Mas o detalhe não é esse. É Jádson, o homem postado mais à direita na linha da defesa, recuado para marcar o lateral-esquerdo do Atlético, Douglas Santos, fora da tela, entrando pela esquerda em impedimento. Jádson é o recordista de assistências do Brasileirão e, ao mesmo tempo, é capaz de voltar até a linha de sua grande área defensiva, para completar o que seria uma linha de cinco defensores.
Agora preste mais atenção: a linha é de só de quatro defensores.
Mas Tite quer sua linha defensiva formada por quatro homens e muito bem fechada, maneira a proteger-se das infiltrações d0 Atlético.
No iníco da palestra, terça-feira à noite, no auditório do Museu do Futebol, em São Paulo, Tite contou que foi à Itália, em 2006, assistir à Juventus dirigida por Fabio Capello, para entender como funcionava sua linha defensiva de quatro homens.
Era assim… fechadinha, sem espaço para o adversário entrar.
É tão difícil entender o jogo para os jornalistas e os torcedores brasileiros que muitos continuam dizendo que as equipes marcam individualmente, quando na verdade marcam por zona.
Perceba também a diferença do posicionamento da linha defensiva do Palmeiras, no primeiro gol do Santos, no mesmo domingo em que o Corinthians se aproximava do título nacional, em Belo Horizonte. O lateral-esquuerdo santista, Zeca, aproxima-se da linha de fundo, enquanto o palmeirense Lucas fecha em diagonal para proteger a entrada de Marquinhos Gabriel.
Você ouviu gente dizendo que o Palmeiras marca individualmente, não ouviu? Não marca. O sistema é por setor, como no Corinthians. A diferença é que o homem do meio-de-campo pela direita, Robinho, não é treinado para voltar e bloquear a subida do lateral adversário até o fim. Não é culpa dele, mas do sistema da equipe.
Razão pela qual a linha de defesa fica aberta demais, dá espaço para a infiltração pelo meio e, na tentativa de bloqueá-la, permite a infiltração do lateral-esquerdo para o cruzamento.
Quase tão grave quanto Marcelo Oliveira não entender que seu time precisa ser mais moderno, fechar a linha de quatro homens e, para isso, contar com a colaboração do meio-de-campo, é continuarmos ouvindo em programas de rádio e TV que times estão marcando individualmente — quando marcam por zona — ou que os atacantes que jogam pelos lados não têm obrigação de voltar marcando.
As duas imagens juntas mostram por que o Corinthians é o virtual campeão brasileiro.
E por que o Brasil continua atrasado não só nos treinos, mas principalmente na cultura sobre o jogo de futebol.
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