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Coluna do PVC

Você pode pegar o metrô para ir ao estádio. Não pode é sair de casa!

PVC

04/04/2016 12h43

Quando este colunista alerta para a distância do homicídio para o estádio onde aconteceu Palmeiras 1 x 0 Corinthians, não é para minimizar o crime. Ao contrário. É apenas para deixar claro que o discurso demagógico de não ir ao estádio não faz o menor sentido. De manhã, mais uma vez, houve quem aconselhasse a não levar o filho ao metrô para ir a um jogo de futebol. O futebol não tem nada a ver com isso, exceto ser o pretexto para um bando de idiotas se agruparem. Você pode pegar o metrô e ir ao jogo. Não pode pegar o metrô é para sair de casa.

Ontem, o crime em São Miguel Paulista aconteceu do lado de fora da estação de trem de São Miguel Paulista. A vítima não era um torcedor, não estava em direção ao Pacaembu. Era um pedestre, a 33 quilômetros do local da partida. Mais cedo, houve briga na estação Brás do metrô, a 1o quilômetros do palco do clássico. Se você estivesse levando seu filho ao dérbi e estivesse na estação Brás correria risco. Se estivesse levando seu filho ao cinema, também. Se saísse do Brás em direção à avenida Paulista, fechada para o trânsito para o lazer, também viveria uma experiência de guerra.

Por trinta anos, desde que a primeira bomba caseira foi encontrada no Pacaembu num dia de Corinthians 1 x 0 Palmeiras, em 1985, o discurso da imprensa sempre apontou como solução paliativa não ir ao estádio. Quantas vezes você ouviu a frase "não leve seu filho ao campo."?

No sábado, os ônibus de Flamengo e Botafogo demoraram uma hora para terem autorização de voltar ao Rio de Janeiro depois do clássico em Juiz de Fora, porque uma briga entre facções uniformizadas rubro-negras e botafoguenses bloqueavam a estrada. No dia 13 de fevereiro, uma briga entre são-paulinos e corintianos bloqueou um trecho do anel viário Magalhães Teixeira, em Valinhos. a aproximadamente 110 quilômetros do estádio de Itaquera. Em 2011, Palmeiras 2 x 1 Corinthians aconteceu em Presidente Prudente e um torcedor foi assassinado na Marginal Tietê.

São 113 mortes de 2010 para cá, crimes ligados a brigas de facções de torcidas uniformizadas. O fato de nenhuma delas acontecer nos arredores do estádio indica que você pode ir ao jogo. Minha filha foi ontem a Palmeiras x Corinthians. Chegou e saiu do Pacaembu sem nenhum transtorno, nenhum problema. Mas quem passou pela estação Brás para ir ao cinema teve um domingo horroroso.

Isso indica que só há uma coisa a fazer: cobrar o Estado, que recebe o dinheiro que você e eu pagamos de imposto.

Pagamos imposto para ter segurança. Para ir ao cinema, à avenida Paulista, para dirigir com tranquilidade na rodovia entre Juiz de Fora e Rio de Janeiro, para ir ao estádio do Pacaembu, Mineirão ou Maracanã.

Hoje em dia, você pode ir ao estádio. Desde que tenha coragem para sair da sua casa.

 

 

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.