O coração traiu o capitão
Era preciso ter coração forte para correr em direção ao campo de ataque num tempo em que os laterais guardavam posição no campo de defesa. O fôlego era um de seus pontos fortes. Não o único. As imagens do Fluminense subindo ao campo vestido de branco para enfrentar o Bangu na decisão do Campeonato Carioca de 1964, novinho aos 20 anos de idade, e dirigido pelo treinador que consideraria por toda a sua vida o maior de todos os tempos: Tim.
O Fluminense revelou Carlos Alberto e foi campeão com Joaquinzinho, Gílson Nunes, Oldair, Ubiraci… O timaço apelidado timinho era pouco para o refinamento do futuro capitão do tri. E Carlos Alberto se foi ao encontro dos deuses. Fez parte da segunda geração de super craques do Santos, junto com Clodoaldo, Ramos Delgado, Joel Camargo, Djalma Dias, Rildo, Toninho Guerreiro, Edu. Junto com Pelé.
Carlos Alberto Torres disputou até o final da vida a primazia de ser o maior lateral-direito da história. Há quem vote em Djalma Santos ou Leandro, opinião de Telê Santana. Nunca ninguém negará a glória de ter sido o maior capitão do maior time de todos os tempos. A revista inglesa World Soccer elegeu o Brasil de 1970 a melhor equipe da história. Carlos Alberto eternizou o beijo na taça Jules Rimet.
E autor do gol mais coletivo daquela campanha. A jogada que começou com a roubada de bola de Tostão, passou pelos três dribles de Clodoaldo, chegou a Jairzinho, ensaiado pelo lado esquerdo do campo, porque a marcação italiana era individual e o lateral Facchetti largaria a lateral esquerda para perseguir o Furacão da Copa. O espaço aberto ficou para Carlos Alberto fuzilar Albertosi com o capricho do quique da bola para alcançar a veia do pé direito do capitão.
Carlos Alberto foi campeão brasileiro como jogador pelo Santos (1965, 1968) e como técnico pelo Flamengo (1983). Foi jogador também do Botafogo, seu time do coração, em 1971, a quem ajudou a vencer a Copa Conmebol em 1993. Voltou ao Fluminense para fazer da Máquina bicampeã carioca de 1975 e 1976. Abriu as fronteiras e tornou-se embaixador no Cosmos. Carlos Alberto Torres teve fôlego para ir ao ataque e voltar à defesa, para subir aos Estados Unidos e descer ao Brasil, para ser campeão como técnico e como jogador.
O coração que lhe permitia tudo isto traiu-o neste 25 de outubro de 2016.
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