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Coluna do PVC

O plano B do Flamengo começa com a letra C de campeão

PVC

09/01/2018 00h08

Corria o ano de 1992 e a revista Placar lançava um caderno de estatísticas como encarte em sua edição guia do Campeonato Brasileiro. Trabalhavam nela o jovem repórter que vos escreve e Celso Unzelte. Naquele caderno, descobriu-se, por exemplo, que Roberto Dinamite era o maior goleador do Campeonato Brasileiro. Mas um texto curto e inocente registrou uma coisa da alma rubro-negra: "O Flamengo sempre foi campeão brasileiro com técnicos da casa, que tinham uma parte do nome começando com a letra C, de campeão: Cláudio Coutinho, Carpegiani, Carlos Alberto Torres e Carlinhos. Naquele ano, Carlinhos foi campeão pela segunda vez e a regra se manteve para os da casa com Andrade — Cuca, com C de campeão, começou a campanha de 2009.

É um mistério que seja assim, mas é. Paulo César Carpegiani estava contratado para ser o coordenador de futebol. Na verdade, não estava 100% confirmado, por duas razões. Porque o Flamengo esperava a definição de Rueda para ter Carpegiani como plano B, como se confirmou. E porque não estava tudo certo a respeito do salário de coordenador. Ainda poderia dar errado. Algum lado podia roer a corda.

Além disso, Rueda poderia não ter o comportamento que teve com o Flamengo. Sair e pagar a multa, tudo bem. Não custava avisar antes.

Mas já havia gente que, com mérito, dizia que estava tudo certo. Se Rueda não ficasse, Carpegiani seria o técnico. Este colunista disse que esta era uma hipótese concreta, não uma certeza.

Não seria a escolha deste próprio colunista. Carpegiani fez bons trabalhos recentes, dentro do que se entende como bom trabalho no Brasil. Em 2016, assumiu o Coritiba na 18a rodada em penúltimo lugar, entregou em 15o. um turno depois. Em 2017, pegou o Bahia na 27a rodada em 14. lugar, terminou em 12o lugar. Todo mundo disse: "Carpegiani fez um ótimo trabalho." Fez! Mas foi um trabalho? Padrão brasileiro. Não deu três meses.

No Flamengo, o desafio é maior. Ele terá um ano para dirigir um elenco forte, corrigir coisas, torná-lo menos burocrático, fazer o jogo fluir. Carpegiani é um prazer de conhecedor de futebol. Dá gosto ouvi-lo falar sobre o jogo. Seu grande mérito sempre foi manter o que dava certo e aprimorar. Fosse no Bahia de 2017, onde conseguiu voltar à origem da equipe de Guto Ferreira, fosse no Flamengo, onde sucedeu Dino Sani, em 1981, e retomou a origem daquela equipe, do tempo em que era dirigida por Cláudio Coutinho e em que ele próprio brilhava no meio-de-campo.

Não seria a escolha deste colunista, mas pode dar certo. Corrigir coisas, melhorar outras, manter a origem. Carpegiani quer Diego nas entrelinhas, entre o volante e o zagueiro, criando mais do que criou. Aquele Flamengo de 1981 jogou partidas, como o a do ladrilheiro contra o Vasco, em 6 de dezembro de 1981, num sistema 4-2-3-1. Incrível, mas é verdade.

O sonho rubro-negro é ser campeão da Libertadores como o mesmo técnico de um troféu que ocorreu 37 anos atrás. Não aconteceu com Alex Ferguson permanecendo na mesma equipe, não aconteceu com Matt Busby nem com Bill Shankly nem com Guy Roux, campeão pelo Auxerre depois de 44 anos no cargo, mas vencedor uma única vez. Será que acontecerá com Carpegiani?

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.