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Coluna do PVC

O repórter que virou olheiro

PVC

06/02/2019 14h48

Foi famosa, no início dos anos 1980, a história do engenheiro Odil Garcez Filho. No ápice da recessão brasileira e da crise da construção civil, Odil inaugurou uma lanchonete chamada "O Engenheiro que virou suco", na pista Consolação-Paraíso, no meio da avenida Paulista. Uma década mais tarde, transformou-se em comerciante de carros, mas o mercado de engenheiros seguiu afastando-o das obras.

Nos últimos meses, jornalistas não viram suco, como Odil Garcez Filho. Viram olheiros. Os repórteres Dassler Marques, ex-Uol, e Pedro Venâncio, ex-globoesporte.com, decidiram trocar a observação atenta de jovens jogadores para estamparem manchetes em matérias bem produzidas para se transformarem em analistas de revelações para clubes importantes. Pedro Venâncio agora trabalha para o Corinthians. Dassler Marques para o Liverpool, da Inglaterra.

A história de Dassler Marques chama mais a atenção, porque o trabalho de garimpagem de jovens talentos que fazia como jornalista chamou a atenção de um clube europeu. O Liverpool tem observadores espalhados pelo mundo, chamaos de scouts. Há histórias de espiões que ajudaram o Tottenham a contratar Gareth Bale ou recomendaram que o Liverpool não assinasse com Dele Ali.

O olhar astuto de um scout pode valer milhões ganhos ou desperdiçados. Nas páginas de um site ou jornal essas linhas podem significar credibilidade. Também vale muito. Mas, como os engenheiros do início da década de 1980, há muita gente tentando fugir das redações antes de ser expulsa pelo mercado de trabalho. Há muita gente feliz e bem tratada pelo mercado, como é o caso deste colunista. Mas há cada dia mais casos de gente competente e talentosa deixando de nos brindar com matérias importantes.

Especialistas em divisões de base nos tempos de reportagem, Dassler Marques e Pedro Venancio seguem em busca de descobertas. O Liverpool determina que se observe um jogador específico, mas também dá liberdade para que o olheiro informe sobre um talento emergente. Já houve muitas histórias famosas assim, no passado do futebol brasileiro. Uma das mais conhecidas é do jornalista Celso Garcia, que indicou Zico para o Flamengo.

A diferença é que naquele tempo o que sugeria a indicação era a paixão pelo futebol e por seu clube e um certo amadorismo do jornalista, que não percebia não poder ultrapassar barreiras do relacionamento. Hoje, o que move a mudança de carreira é a crise da profissão que amamos e o profissionalismo dos clubes a que assistimos pela TV.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.