Conheça Jorge Jesus, o técnico cogitado pelo Flamengo
Jorge Jesus é um técnico com participação ativa em processos de construções de bons clubes. Ajudou o Sporting Braga, de onde saiu em 2009 com um acordo entre as direções bracarense e benfiquista. Por 700 mil euros de multa, saiu do norte para Lisboa. No ano seguinte, 2010, foi campeão português em sua primeira temporada no estádio da Luz. O Braga foi o vice.
Projeção de carreira perfeita, no ano seguinte perdeu a semifinal da Liga Europa como técnico do Benfica para o próprio Braga, de onde veio.
Façamos aqui um recorte até a temporada 2012/13, porque o Benfica de Jorge Jesus foi vice-campeão nacional em 2011 e 2012. Como era um processo de clara reestruturação do Benfica, a direção do estádio da Luz não mexeu uma palha no comando técnico.
Na temporada seguinte, liderou por dezessete jornadas. Faltando três rodadas para o fim da campanha, o Benfica tinha quatro pontos de vantagem sobre o Porto e precisava ganhar do Estoril e do Moreirense, em Lisboa, para ser campeão. No meio das duas rodadas, clássico com o Porto, no estádio do Dragão.
Pois o Benfica empatou com o Estoril, na Luz, e foi ao Porto em busca de um empate que permitiria conquistar a taça e acabar com o jejum de três anos apenas ganhando do Moreirense.
Mas, na última bola do jogo, minuto 92, o portista Kelvin (ele mesmo!) puxou contra-ataque e acertou um chute impensável no minuto 92. O golaço de fora da área deu a vitória ao Porto por 2 x 1 e Jorge Jesus caiu de joelhos no gramado do Dragão. O Porto confirmou o título na rodada seguinte.
Isso aconteceu no sábado, 12 de maio. Na quarta-feira, 15, em Amsterdam, o Benfica empatava com o Chelsea a decisão da Liga Europa até o último minuto, quando Ivanovic marcou de cabeça. Chelsea campeão e Benfica vice português e da Liga Europa.
Se você ainda não entendeu que o Benfica queria mesmo ser grande e apostava na seqüência de trabalho, fique com outra informação: Jorge Jesus não foi demitido!!!
Seguiu técnico do Benfica e o processo de sedimentação de um clube poderoso em Portugal estava quase concluído. Com Jorge Jesus, que ajudou muito, mas não foi o responsável direto pelo sucesso, o Benfica foi campeão português em 2014, bicampeão em 2015… Então, Jesus e o presidente benfiquista Luís Filipe Vieira desentenderam-se. Jorge Jesus sentiu-se traído pelo clube, que assinou pré-contrato com Rui Vitória. Sentiu-se desprestigiado e deixou a Luz, com o recorde de troféus da história benfiquista. Ganhou dez títulos em seis anos, mais do que Oto Glória, com nove troféus em sete temporadas.
Jesus seguiu para o Sporting, então presidido por Bruno de Carvalho, dirigente com jeito de moderno e práticas antiquadas. Imaginou-se capaz de fazer o Sporting voltar às conquistas, como fizeram no Braga e no Benfica. Não foi assim. Deixou o Sporting em duas temporadas e após o covarde episódio da invasão de torcedores ultras ao Centro de Treinamento de Alcochete.
Enquanto Jorge Jesus esteve no Sporting, o Benfica seguiu soberano. Ganhou dois títulos sob o comando de Rui Vitória, perdeu o campeonato de 2018 para o Porto, e recuperou a hegemonia em 2019 com o jovem Bruno Lage como técnico a partir de janeiro.
Moral da história é que Jorge Jesus é um bom técnico, mas seus maiores sucessos foram conquistados por causa da evolução e da serenidade de um novo clube, aquele em que se transformou o velho Benfica. O time da Luz é moderno e hegemônico em seu país. Jorge Jesus ajudou a fazer isso, mas o clube seguiu surfando no sucesso. Jesus, não.
Se não tiver um projeto semelhante, que suporte derrotas como as que o Benfica suportou na trajetória, nem Jesus ajuda o Flamengo. Se perdesse o título brasileiro como perdeu o português no gol de Kelvin, caso se debruçasse sobre as pernas na Gávea como fez no estádio do Dragão, sairia com os joelhos queimados, tão quente anda a frigideira de treinadores que se vestem de rubro-negro.
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