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Coluna do PVC

Copa América tem muito mais do que obrigação ou vexame

PVC

14/06/2019 13h28

Na primeira vez em que o Brasil enfrentou a Bolívia em território nacional, houve massacre e polêmica. Vitória por 10 x 1, no Sul-Americano de 1949, com três gols do estreante Nininho, meia da Portuguesa. A crise esboçou-se, porque Mario Filho escreveu no Jornal dos Sports que seleção não era para se fazer concessões aos paulistas, mas para escalar o melhor time. Flávio Costa tirou cinco titulares e trocou-os por cinco jogadores de clubes de São Paulo. A goleada apaga tudo.

A lembrança poderia servir para reforçar a teoria de que o Brasil deve massacrar os bolivianos na noite desta sexta-feira (14), na abertura da Copa América. A Bolívia é a mais fraca das rivais do Grupo A, mas goleada se constrói, não se imagina.

A Copa América, também.

Nunca o torneio sul-americano começou com festa e farra, nos tempos modernos. Sempre vem cercada de obrigação ou vexame. O contraste explica, por si só, a dificuldade. O Brasil entra na competição para vencer como obrigação. Qual a novidade?

Você já ouviu alguém dizer que o Brasil vai a uma Copa do Mundo para fazer boa figura? Vai para ganhar, ora…

Qualquer coisa que não seja o troféu produz desgaste e discussão. Basta ver o que aconteceu depois da eliminação para a Bélgica.

O Brasil jogou quatro vezes a Copa América em casa e ganhou todas estas edições. Por outro lado, disputou 34 e ficou ausente de dez edições do torneio, foi campeão oito vezes e vice outras onze, o que significa não ter alcançado a decisão quinze vezes. Nunca foi simples.

A dualidade brasileira hoje está entre compreender que não somos mais potência ou julgar que é preciso atropelar qualquer adversário. Sempre oito ou oitenta.

Parece que, se não ganhar de 4 x 0 da Bolívia não está bom, mesmo que a campeã do mundo, a França, tenha vencido os bolivianos por 2 x 0.

Parece mais equilibrado colocar as coisas como são: 1. O Brasil deve ganhar da Bolívia; 2. O Brasil tem a responsabilidade de jogar para vencer a Copa América; 3. É necessário conhecer os adversários e entender o momento do futebol atual, ou seja, vai ser difícil.

A seleção brasileira precisa chegar forte e em condições de ser campeã mundial no Catar, em 2022. Isso exige trabalho árduo e em etapas. Uma delas é a Copa América. Vencer é sempre melhor do que perder. Mas o Brasil só voltará a ser poderoso de maneira a ser favorito em qualquer Copa América quando entrar na competição com um ambiente realista.

A Copa América terá Messi, Luis Suárez, Paolo Guerrero, os campeões da Champions League Firmino e Alisson. Não dá para ficar entre a obrigação e o vexame. Há muito mais coisas em jogo para fazer o futebol brasileiro e a seleção serem fortes de novo.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.