Topo

Coluna do PVC

Só quatro países latinos entre os dezesseis melhores da Copa do Mundo

PVC

21/06/2019 10h55

"Futebol é para homem" foi uma máxima repetida exaustivamente até o fim do século passado.

Causou um mal enorme ao desenvolvimento do jogo entre as mulheres. Não só no Brasil.

Historicamente, os países latinos foram os últimos a começar a se desenvolver. Porque o machismo que impera no Brasil, também manda na Itália, na Argentina, em Portugal, na Espanha, em maior ou menor escala.

Só quatro dos dezesseis finalistas da Copa do Mundo são latinos: Brasil, Espanha, França e Itália.

Destes, só Brasil e França já foram semifinalistas.

O machismo dos países latinos é uma das razões de a Alemanha ser a única nação campeã mundial tanto entre os homens, quanto entre as mulheres. Nem uruguaias, argentinas, nem brasileiras, espanholas, francesas ou italianas repetem o sucesso dos homens campeões mundiais.

Campeãs foram as norte-americanas, norueguesas, alemãs e, em 2011, as japonesas. Entre as segundas colocadas, as chinesas, suecas e… uma vez, as brasileiras.

Nunca outro país latino chegou à decisão da Copa do Mundo, entre as mulheres. Só o Brasil.

Mas o desenvolvimento é rápido em três nações, que criaram ambientes favoráveis: França, Espanha e Itália.

Nesta ordem.

Há três anos, uma notinha de rodapé de página do jornal italiano La Gazzetta dello Sport mostrava que o Paris Saint-Germain investia 6 milhões de euros por ano em seu departamento feminino de futebol. Naquela temporada, 2016/17, o PSG chegou à decisão da Champions League pela segunda vez.

É pouco investimento, comparado com os mais de 600 milhões gastos com os homens, mas o fato de o Paris ter o Lyon como grande rival, e o time do leste da França ser tetracampeão da Champions, reforça o espírito de valorização do jogo entre as francesas.

Na Espanha, a temporada terminou com disputa acirrada entre Atlético de Madrid, o campeão nacional, e o Barcelona, vice da Champions, primeiro representante espanhol a alcançar a decisão europeia. Atlético e Barcelona levaram 65 mil pessoas ao estádio, recorde de público no planeta. No Brasil, o Iranduba levou 25 mil à Arena da Amazônia há dois anos. É uma marca importante, mas muito distante do que ocorre na Europa.

A Fiorentina, representante italiana na última Champions League, caiu nas oitavas-de-final. A Itália voltou a disputar uma Copa do Mundo depois de vinte anos, desenvolve-se, mas num ritmo mais lento do que espanholas e francesas. O Brasil está estacionado. Não regride, mas não existe ambiente, não se estimula meninas a jogarem futebol.

Mesmo assim, da quantidade se tira qualidade. Num país de 210 milhões de habitantes, é possível pinçar Marta, Cristiane, Formiga, Debinha, Andressa Alves, hoje lesionada, mas vice-campeã da Champions pelo Barça. É preciso ter atenção. Se entre os homens, o desenvolvimento de outros países assusta a seleção brasileira, entre as mulheres o avanço de muitas nações que não investiam nada é agora flagrante.

Ou se muda a cultura ou o Brasil vira mero espectador.

Isso vale para o masculino e para o feminino.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.