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Coluna do PVC

Por que Tite escolheu Allan em vez de Lucas Paquetá?

PVC

27/06/2019 10h05

Há um distanciamento necessário a todo jornalista. Relação com fonte é fio da navalha. Nem longe demais para ninguém se imaginar amigo, nem distante o suficiente para não ter nenhum acesso à informação. Nem amigo nem inimigo.

No caso da seleção brasileira, normalmente fechada em seus andares exclusivos de hotéis, o trabalho exige arquivo. Nele, residem informações preciosas que ajudam a entender algumas decisões, se aliadas às observações dos treinos e ouvido atento às entrevistas. Muita gente pode julgá-las chatas.  Mas a pretensão de julgar decisões certas ou erradas exige ouvi-las com atenção.

Observar todos estes detalhes faz, por exemplo, entender por que Tite não testou Marcelo no meio-de-campo depois da Copa do Mundo, quando teria tempo para fazê-lo. Não fez porque Marcelo foi convocado duas vezes e cortado em ambas, por lesão. O lateral não voltou ao grupo da seleção depois da Copa.

Assim que terminou a entrevista coletiva de Tite, com o anúncio de que Allan seria o substituto de Casemiro, suspenso, e de Fernandinho, machucado, muita gente discordou da escolha e disse preferir Paquetá. Justo. Paquetá poderia fazer o trabalho no 4-1-4-1, sistema usado pela seleção até o segundo tempo da partida contra a República Tcheca. Naquele dia, o treinador trocou Casemiro por Arthur e montou o meio-de-campo com a dupla que enfrentará o Paraguai. O Brasil virou o jogo.

A partir dali, por julgar que seu ponta direita joga como segundo atacante e, por isso, Daniel Alves precisa de liberdade para atacar, Tite mudou o posicionamento do segundo volante. Deixou de jogar no 4-1-4-1, substituído pelo 4-2-3-1.

 

Paquetá atuou com Tite cinco vezes. Contra os Estados Unidos e contra El Salvador, como substituto de Coutinho, primeiro, e Richarlison, depois. Contra o Catar, entrou no segundo tempo na vaga de Coutinho. Foi titular contra o Panamá e República Tcheca. Em ambas, jogou como meia-esquerda, no 4-1-4-1, invertendo posições com Phillippe Coutinho. Ou seja, nunca foi testado como segundo volante. Ele não joga no sistema desenhado no primeiro campinho. Poderia ser escalado se a seleção usasse o sistema ilustrado no segundo campo.

Mas Tite não volta ao 4-1-4-1, porque entende que precisa de proteção para Daniel Alves ser o criador pela direita. Paquetá virou o reserva de Coutinho. À parte entender que poderia ser diferente, a informação é esta. Não havia nenhuma chance de Paquetá substituir Casemiro e recuar Arthur para primeiro volante.

Paquetá atuou indo e voltando, ajudando a proteger o primeiro cabeça-de-área, no Flamengo de Maurício Barbiéri. Com Dorival Júnior, já atuava como meia central, protegido por Cuellar e William Arão. No Milan, atua no 4-3-3, na meia esquerda. Na função que Tite pretende contra o Paraguai, Paquetá nunca atuou na seleção. "Não sou competente para fazer uma formação que não trabalhei", disse o treinador da seleção duas vezes durante a Copa América.

Só seria diferente, se Tite mudasse tudo o que treinou desde o início da competição. Não é este o perfil do treinador da seleção brasileira.

 

 

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.