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Coluna do PVC

Esquecemos como é Felipão ou como é o futebol?

PVC

22/07/2019 18h32

Nos dois jogos anteriores à estreia do Grêmio na Libertadores, em 1995, Felipão viu seu time sofrer com baixa performance. Houve empates contra o Ypiranga e o Pelotas, antes de viajar a São Paulo e perder para o Palmeiras por 3 x 2. Na sequência, empate contra o Juventude, em Caxias. Quem acompanhou aquela campanha com a atenção devida vai se lembrar de um 3 x 0 sobre o Olímpia, em Assunção, com golaço de Dinho, de fora da área. Já eram as oitavas-de-final. O time deslanchou, fez 2 x 0 no retorno, no Olímpico, meteu 5 x 0 no Palmeiras e, então, levou 5 x 1 em São Paulo.

Turbulências fizeram parte de todas as grandes conquistas dos times de Felipão. Em 1999, já pelo Palmeiras, houve derrota para o Olímpia por 4 x 2, em Assunção, empate contra o mesmo rival no Parque Antarctica, lesão de Veloso, derrota para o Corinthians na fase de grupos. Quando parecia tudo andar em direção à estabilidade, depois de eliminar o Vasco, campeão da Libertadores de 1998, o Palmeiras venceu o Corinthians por 2 x 0 e emendou uma sequência trágica. Perdeu por 5 x 1 para o São Paulo, por 2 x 0 para o Corinthians e 2 x 1 para o Flamengo. Só salvou a decisão por pênaltis com São Marcos eliminando o Corinthians.

Tinha de ganhar a volta contra o Flamengo, pela Copa do Brasil, por dois gols, e fez 4 x 2, jogo histórico de Euller. Tinha de fazer dois gols de diferença no River e fez 3 x 0, com show de Alex.

A única diferença é que, naquele tempo, mesmo com o Palmeiras se preparando para ganhar a Libertadores e montando dois times fortíssimos, ninguém dizia que o Palmeiras não perderia nunca. Altos e baixos são do futebol e, mais ainda, das grandes equipes de Felipão. Aquele Palmeiras de 1999 perdeu cinco vezes e foi campeão da Libertadores.

O atual perdeu duas vezes seguidas com Felipão, pela primeira vez, depois de um ano. O retrospecto é impressionante. Neste 2019, o Palmeiras não havia sido vazado por duas partidas seguidas. É imbatível? Claro que não.

Ninguém é.

A cada dia mais se comenta a arrogância do futebol brasileiro quando joga competições sul-americanas e cada vez somos mais arrogantes. Jogar em Mendoza, contra o Godoy Cruz, não lembra nada, a não ser o favoritismo exacerbado do elenco mais caro do futebol do Brasil, o mesmo cujo centroavante só marcou um gol nos últimos dez jogos, e contra o Avaí, lanterna do Brasileiro. O mesmo cujo meia-esquerda, Lucas Lima, só deu um passe para gol no ano.

Felipão parece querer colocar verdades nos pés de jogadores que escutam mais a falsa realidade de que o Palmeiras é o sempre melhor time do Brasil, o que só ocorre nos momentos de grande transpiração, porque há poucos jogadores aqui de enorme inspiração.

Por isso, o jogo contra o Godoy Cruz é perigoso. A falta de concentração fez o Palmeiras desabar de um índice de finalizações certas de 54%, nas cinco primeiras rodadas do Brasileiro, logo depois do fracasso no estadual, para a assustadora média de 70% de chutes errados, nas quatro partidas depois da parada da Copa América.

O Godoy Cruz recebeu dois times brasileiros em Mendoza. Empatou com o Atlético Mineiro por 1 x 1 e perdeu para o Grêmio por 1 x 0, ambos em 2017, ano de título de Libertadores gremista. Em Mendoza, a pequena torcida tem certeza de que o Godoy Cruz pode derrotar o campeão brasileiro. Pode mesmo.

Mas três derrotas seguidas, o Palmeiras não tem desde julho de 2017, quando caiu contra o Barcelona de Guayaquil, no Equador, para o Cruzeiro e para o Corinthians, por 2 x 0, gols de Jádson e Arana, no Allianz Parque.

Hoje, parece que o Palmeiras, pelo poder do dinheiro, virou intransponível, que nunca mais vai sofrer três derrotas seguidas. Essa ideia equivocada que se espalha dia após dias pelo noticiário aumenta a pressão, quando ela chega. O desafio dos grandes clubes nunca foi evitar crises, mas saber como sair delas.

Felipão sempre foi mestre nessa arte. No Grêmio dos tropeços contra Ypiranga e Pelotas, no início do ano da conquista da Libertadores de 1995, ou no Palmeiras, dos tombos contra São Paulo, Corinthians e Flamengo, em sequência.

A primeira coisa para sair de um momento ruim é entender a limitação, convencer todos de que é necessário transpirar e conhecer a força do adversário. Principalmente, quando ninguém acha que o próximo rival possa ser uma ameaça. Se não pudesse, não seria chamado de "adversário."

 

 

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.