O ano dos técnicos europeus na América do Sul
O iugoslavo Mirko Jozic, nascido na Croácia, é o único técnico europeu a vencer a Copa Libertadores em toda a história. Também foi o último finalista. Apesar de treinadores da Europa terem passado por aqui, como Miguel Angel Portugal, treinador do Athletico Paranaense na edição de 2014, ou Fernando Jubero, espanhol que eliminou o Corinthians pelo Guaraní do Paraguai, em 2015, a última decisão com um treinador europeu foi a de 1991, quando o Colo Colo de Jozic venceu o Olimpia.
O português Jorge Jesus pode ser o segundo.
A temporada 2019 já ficou na história por ter o primeiro treinador europeu campeão da Copa Sul-Americana. O espanhol Miguel Ángel Ramírez levou o Independiente del Valle ao troféu, com vitória sobre o Colón, da Argentina.
Incrivelmente, a Libertadores só teve um outro treinador europeu finalista: Béla Guttmann. O húngaro, campeão paulista pelo São Paulo em 1957 e bicampeão da Europa pelo Benfica, em 1961 e 1962, dirigiu o Peñarol na decisão contra o Santos, em 1962.
Não é tão comum ter treinadores sul-americanos campeões na Europa como pode parecer. Na Premier League, o único foi o chileno Manuel Pellegrini, pelo Manchester City, em 2014. Na Espanha, Diego Simeone pelo Atlético de Madrid, na mesma temporada. Há finalistas de Champions League, como Mauricio Pochettino pelo Tottenham e Simeone pelo Atlético, mas campeão pela última vez foi Helenio Herrera, argentino de nascimento, em 1965.
A lista de treinadores europeus vencedores na América indica que a reserva de mercado não é exclusividade brasileira. Ao contrário, como você já leu aqui, a história do futebol brasileiro é de abertura a treinadores internacionais. A questão atual é trazer bons nomes, como é o caso de Jorge Jesus e Jorge Sampaoli. Nesta década, passaram vários competentes treinadores que caíram na máquina brasileira de moer trabalhos: Paulo Bento, Ricardo Gareca, Miguel Angel Portugal, Juan Carlos Osório, Edgardo Bauza, Jorge Fossatti, Diego Aguirre. Na década passada, Daniel Passarella passou pelo Corinthians, Hugo De León pelo Grêmio e Lotthar Matthäus pelo Athletico Paranaense.
Nenhum destes nomes gerou resistência. Daí que a impressão ainda é a de que a birra dos treinadores brasileiros, atualmente, não é com o sucesso de Jorge Jesus e Jorge Sampaoli, mas com a polarização que se faz questão de criar. O uruguaio Juan Mujica foi o antecessor de Felipão, no Grêmio, assim como Hugo De León precedeu Mano Menezes no estádio Olímpico. Nos anos 1980, Omar Pastoriza dirigiu o Fluminense e, mesmo que fosse residente no Brasil, não se pode esquecer que José Poy era uruguaio.
A questão é que não se criou jamais a polêmica de "eles são bons x nós somos péssimos."
Se Jorge Jesus se sente ofendido pelas declarações de seus colegas, é de se respeitar e de se ponderar o nível de intolerância em que se está. Também é justo que dê nome aos treinadores que deram declarações com as quais sentiu-se ofendido. Foi Alberto Valentim, a quem acusou de fazer "caça ao homem"? Foi Mano Menezes? Foi Renato Gaúcho? Porque não se ouviu nenhum comentário negativo nem de Vanderlei Luxemburgo, nem de Abel Braga, nem de Vágner Mancini, Fernando Diniz, Zé Ricardo… Na Itália, a imprensa brincava com a pronúncia de José Mourinho quando dizia que seus rivais faziam "zero punti" e na Inglaterra Gary Lineker tuitou "Welcome to Premier League", quando o chileno Manuel Pellegrini sofreu sua primeira derrota na Premier League. Na mesma temporada em que foi campeão. Nomes aos bois: Gary Lineker e La Gazzetta dello Sport.
É óbvia a contribuição de Jorge Jesus para o futebol brasileiro, assim como a de Sampaoli. O intercâmbio é história do futebol do Brasil, seja com contratações de craques como Pedro Rocha e Doval, seja com ex-jogadores que se tornaram comentaristas, como Petkovic e Sorín, seja com treinadores campeões aqui, como Fleitas Solich, Béla Gúttmann, José Poy e Filpo Nuñez.
Isso sempre aconteceu no Brasil. Jorge Jesus pode ser o segundo europeu na Libertadores.
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