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Coluna do PVC

Por que Gabigol deveria ficar no Flamengo

PVC

07/12/2019 03h42

Gabriel sonhava ser jogador de futebol.

Garoto, morava longe do centro de treinamento do Santos, o que fazia com que sua mãe, Lindalva, preferisse esperar as duas horas do treino, a voltar para casa e retornar mais tarde, para buscar o filho de 11 anos. Na maior parte das vezes, ficava ali por perto, até a hora de buscar o filho, candidato a craque.

Ainda era o tempo do Santos, ainda era sub-11.

Mais tarde, pelo sub-15, Lindalva foi convidada a acompanhar a gravação de uma ação de marketing de Gatorade. A campanha chamava-se 3 mil litros de suor. A empresa calculava que esta era a quantidade que um menino suava desde as divisões de base até chegar ao profissional. Gabigol foi apontado como um dos craques da ação, porque seria jogador profissional. Ninguém tinha dúvida disso, tanto talento ele possuía.

No meio das gravações, a mãe, Lindalva, foi flagrada chorando.

"O que aconteceu? Alguém falou alguma bogagem?", perguntaram à mãe.

Lindaval respondeu que não. Apenas estava emocionada, sentindo-se num filme de Hollywood, lembrando-se de quando seu filho era sub-11 e julgava que os meninos corriam mais, porque as mães que buscavam seus filhos de carro, chegavam para buscar os filhos carregando o isotônico famoso, para recuperarem as energias.

"Eu preciso tomar isso. Eles tomam e correm mais do que eu", disse Gabriel para sua mãe.

Sem dinheiro para o isotônico, Lindalva passou a comprar Tang, o refresco em pó que tinha a mesma cor. Em casa, transformava o pó em líquido, colocava numa garrafa de Gatorade fazia, gelava, e entregava ao filho depois dos treinos.

Gabigol virou craque. Era tudo o que ele e sua mãe sonhavam.

Como ele tinha 15 anos e agora tem 23, faz oito anos apenas que esta história acontecia.

Em 2019, viveu no Flamengo sua melhor temporada.

São 43 gols, o maior número de qualquer jogador nesta década, empatado com Neymar.

Quando uma pessoa comum, que sonha apenas dar sustento à sua família, tem o melhor ano profissional de sua vida, normalmente pensa em ficar no mesmo emprego.

O futebol é diferente. Para o bem e para o mal.

O estádio inteiro canta seu nome. E grita? "Fica, Gabigol!"

Depois do ano mais feliz da vida, o craque pensa em buscar outra experiência. É uma opção. Gabriel pode voltar para a Internazionale, jogar pelo Atlético de Madrid, Crystal Palace, West Ham, clubes que estão cotados para receber o maior goleador do Brasil.

Todas as opções são justas.

A outra é permanecer onde foi mais feliz do que em qualquer outro lugar: no Flamengo, dentro do Maracanã.

Gabriel vai precisar beber muito Gatorade para ser tão  feliz na Europa, quanto é no Maracanã.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.