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Coluna do PVC

Mircea Lucescu: "Notícia sobre Santos é falsa, mas é orgulho ser lembrado"

PVC

18/12/2019 07h52

O técnico romeno Mircea Lucescu, 74 anos, pretendia assistir a Flamengo x Al Hilal em Doha, mas uma crise no nervo ciático impediu sua viagem. Viu de Bucareste, sua cidade natal, o desempenho da equipe saudita, treinada por seu filho, Razvan. Na capital romena, leu a notícia de um jornal russo, que o Santos pretendia contratá-lo: "Um jornalista romeno disse que confirmei a informação, mas não é verdade. Não confirmei nada. A notícia é falsa", disse Mircea Lucescu, que atendeu ao blog por telefone.

Apesar de não confirmar a informação, Lucescu diz ser um orgulho ser lembrado por um clube como o Santos. A conversa seguiu por 19 minutos em que o treinador que montou a equipe mais brasileira da história da Champions League falou sobre futebol brasileiro, Mundial de Clubes e o tempo em que foi convidado para jogar pelo Fluminense:

PVC – Como está a saúde depois da crise no nervo ciático?

LUCESCU – Um pouco melhor. Um dia bem, no outro mal. Tive uma crise grande no nervo ciático e, por isso, não consegui assistir ao jogo de meu filho, Razvan, contra o Flamengo. O frio chegou e com ele a dor no ciático.

PVC – O que o senhor achou da partida Flamengo x Al Hilal?

LUCESCU – O Al Hilal fez um grande primeiro tempo. Meu filho conseguiu fazer um grande trabalho e o time trabalhou muito bem. Depois, o Flamengo com jogadores mais experientes e talentosos transformou o jogo. É uma grande equipe.

PVC – O que há de concreto sobre a proposta do Santos?

LUCESCU – Eu vim para Bucareste e soube que havia o interesse do Santos pela imprensa russa. Depois, um jornalista romeno disse que eu confirmei a notícia. Eu não confirmei nada. Parece que houve alguma coisa de um empresário, mas eu não recebi contato do Santos e não confirmei nada.

PVC –  O senhor sempre revelou sua admiração pelo futebol brasileiro.

LUCESCU – Para mim é um orgulho ser lembrado por um clube da expressão do Santos. Me parece que o êxito de Jorge Jesus no Brasil faz com que muitos clubes pensem em treinadores europeus. Me ligou até o jogador brasileiro do Shakhtar, o Júnior Moraes. Mas não teve contato.

PVC – Também seria uma facilidade o fato de que o senhor fala bem o português?

LUCESCU – Eu falo e depois esqueço. Passo um tempo sem praticar. Praticava muito quando estava no Shakhtar e trabalhava com muitos jogadores brasileiros. Quando começo a falar de novo o idioma eu recupero rapidamento.

PVC – Quantos jogadores o senhor chegou a dirigir juntos no Shakhtar?

LUCESCU – Catorze. O jogador brasileiro é indiscutivelmente o melhor do mundo em termos de qualidade. São jovens, às vezes lhes falta um pouco de experiência e disciplina. Tenho relação excelente com quase todos. Com Fernandinho, excelente com Douglas Costa, Luiz Adriano, Junior Moraes, Willian, Elano.

PVC – Só foi ruim com Bernard?

LUCESCU – Com Bernard foi difícil por um tempo, porque ele chegou ao Shakhtar julgando ser o melhor jogador do mundo. Fomos fazer pré-temporada no Brasil e ele chegou cinco dias depois. É muito bom jogador, mas chegou como sensação, vindo como o garoto da seleção brasileira, e tinha de entender que precisava lutar para jogar. Ele só queria jogar pela esquerda e nessa zona do campo eu tinha outros jogadores. Tive Willian, depois tive Taison. Mas não é verdade que não teve chance comigo. Jogou mais comigo do que com Paulo Fonseca, depois.

 

PVC – E com Ronaldo, a quem o senhor treinou na Internazionale?

LUCESCU – Ah, Ronaldo era fantástico. Grandíssimo! Um pecado que se machucou enquanto eu estive na Internazionale. Machucou o joelho, não podia treinar. Mas eu tive uma relação muito bom com ele. Ele me trazia cerveja e eu dava a ele laranjas da Sicília. Laranjas belíssimas da Sicília, que cultivava um amigo meu.

PVC – Ele dava cerveja, para o senhor?

LUCESCU – Sim. Me dava cerveja Brahma Chopp.

PVC – O senhor sempre revelou sua admiração pelo Brasil. É um sonho para o senhor dirigir um time brasileiro?

LUCESCU – Vamos ver o que vai acontecer. Para mim é um orgulho ter meu nome lembrado.

PVC – Mas é um sonho? Como começou sua relação com o Brasil?

LUCESCU – Eu falava para meus jogadores brasileiros coisas sobre o Brasil que eles não conheciam. Eu conheço o Brasil. Estive muitas vezes lá. Em Belém, Campina Grande, Natal, Campinas, Rio Preto, também o sul, Florianópolis. Em 1966, passei dois meses, mais até, no Brasil. Foi quando me apaixonei pelo país.

PVC – O senhor foi ao Brasil pela primeira vez jogar pela seleção romena?

LUCESCU – Sim, passamos dois meses jogando, antes da Copa do Mundo de 1970. Jogamos em Belém, no Norte, Nordeste.

PVC – Desculpe insistir na pergunta. O senhor teve o sonho de ser técnico no Brasil?

LUCESCU – Eu tive o sonho de jogar no Brasil. Tive convite para isso. Antes da Copa do Mundo de 1970, a Romênia enfrentou times brasileiros no Rio de Janeiro. Perdemos do Flamengo, vencemos o Vasco e o Independiente da Argentina. Depois do Mundial, recebi um convite do Fluminense. Queria muito ter jogado no Brasil. Mas, infelizmente, o governo socialista da Romênia não permitiu. Jogadores do leste europeu atuaram no Brasil. O húngaro Albert jogou pelo Flamengo. Depois, Petkovic que ficou muito tempo no Brasil. Até ficou lá.

PVC – O senhor acha que o futebol brasileiro segue sendo forte ou caiu muito?

LUCESCU – Não. A Europa é que cresceu muito. Hoje é importante acompanhar o nível de desenvolvimento da Europa. O Brasil continua tendo os melhores jogadores do mundo, sempre revela grandes talentos. Às vezes, falta um pouco de organização, de disciplina tática. Há também muitos grandes treinadores, que só precisam se preparar para chegar à Europa. Hoje, é muito importante entender e se preparar para o que está acontecendo no continente europeu.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.