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Coluna do PVC

Jesualdo é o pai da mistura campo-academia dos técnicos portugueses

PVC

23/12/2019 09h06

Jesualdo Ferreira seria técnico do Santos em 2015, sem o candidato à presidência, Nabil Khaznadar, vencesse a eleição que levou Modesto Roma ao comando santista, em dezembro de 2014. No final do ano da Copa, no Brasil, Jesualdo participou de jantares na casa de Nabil, na região dos Jardins. No final da década de 1980, foi quem começou a junção academia-campo, a mistura do conhecimento adquirido nas ruas e nos gramados com o sedimentado na universidade. Foi o que produziu a geração de técnicos portugueses que venceu 71 troféus em 29 países no século 21.

Ficou famosa sua frase sobre Jorge Jesus estar vindo trabalhar na "pior liga do mundo." A repórter Irene Palma, do jornal A Bola, que fez a entrevista, contextualiza: "Ele disse a pior no sentido de ser a mais difícil. Isso fica claro em todas as letras. Tem o vídeo, mas as pessoas preferiram não entender."

É justo dizer que tudo começou com Jesualdo Ferreira no Instituto Superior de Educação Física, de Lisboa, a partir de 1989. Foi assistente-técnico e, mais tarde, treinador do Benfica. Demitido por Luís Filipe Vieira, o presidente que contratou Jorge Jesus, assumiu o Sporting Braga e ajudou a transformá-lo na quarta força de Portugal, deixando para trás Boavista e Belenenses, campeões nacionais em 2001 e 1946. Por vezes, o Braga passou a ultrapassar o Sporting.

Quarto colocado na Liga Portuguesa em 2005 e 2006, assumiu o lugar do holandês Co Adriaanse no Porto, o último estrangeiro campeão como treinador em Portugal. Ao título de 2006 conquistado por Adriaanse, Jesualdo juntos os troféus de 2007, 2008 e 2009, na campanha do tricampeonato. A hegemonia do Porto cairia em 2010, pelo Benfica de Jorge Jesus, que causou a saída de Jesualdo do clube do norte de Portugal.

A partir daí, Jesualdo Ferreira passou por escolhas ruins, como o Sporting, onde Jorge Jesus também não conseguiu ser campeão nacional. Fora de Portugal, ganhou os títulos do Egito, pelo Zamalek, e do Catar, pelo Al Saad.

Chega ao Santos cinco anos depois de negociar com Nabil Khaznadar.  O Brasil agora conviverá com três técnicos campeões portugueses. Jorge Jesus venceu pelo Benfica o título nacional em 2010, 2014 e 2015. Jesualdo Ferreira venceu pelo Porto em 2007, 2008 e 2009. Augusto Inácio, novo treinador do Avaí, ganhou pelo Sporting, em 2000.

O sucesso dos técnicos portugueses não depende só da qualidade deles, mas da paciência dos dirigentes brasileiros em permitir que o trabalho aconteça em médio prazo.

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.