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Coluna do PVC

Gigantes da Itália vendidos mostram que clube-empresa não é milagre

PVC

31/12/2019 04h31

Enquanto o Botafogo espera pelas últimas alterações jurídicas, para transformar seu departamento de futebol em sociedade de propósito específico, atrair investidores e tornar-se viável economicamente, os gigantes da Itália mudam de mãos e demonstram que não há milagre nem para clubes associativos, nem para sociedades por ações.

A Roma está sendo vendida pelo grupo empresarial de James Palotta oito anos depois de ter sido adquirida da família Sensi e sem a conquista de nenhum título. Palotta negocia a campeã italiana de 1942, 1983 e 2001 por US$ 780 milhões com o empresário norte-americano Dan Friedkin, presidente do grupo Gulf State.

Há oito anos, a Roma tornou-se o primeiro clube da Itália controlado por um grupo norte-americano. Agora, mantém a bandeira das estrelas e faixas, mas muda de controle. Durante a gestão Palotta, a Roma viu a hegemonia da Juventus, controlada pelo grupo Fiat e presidida por Andrea Agnelli.

No mesmo período, o Milan foi vendido por Silvio Berlusconi para o chinês Yonghong Lee e depois para o fundo norte-americano Elliott. A Fiorentina saiu do controle da família Della Valle para o norte-americano Rocco Comisso. O Bologna foi comprado pelo empresário ítalo-canadense Joey Saputo e a Internazionale saiu de Massimo Moratti para o indonésio Erick Thohir e, mais tarde, para o Grupo Suning. Zhang Jingdong é o maior acionista.

De todas estas compras e vendas, só a Internazionale dá sinais de reação. Não ganhou nenhum troféu depois da venda pela família Moratti, mas lidera a Série A com 42 pontos, mesma pontuação da Juventus, mas com oito gols a mais de saldo. A Roma está em quarto lugar, o Bologna em nono, o Milan em décimo-primeiro e a Fiorentina ocupa a décima-quarta colocação.

É diferente o cenário do Manchester City, atual bicampeão inglês e poderoso depois da compra pelo sheik Mansour, ou do Chelsea, dono de seis títulos ingleses, cinco deles depois da compra pelo empresário russo Roman Abramovich, em 2003. Mesmo entre os ingleses, houve fracasso do Manchester City sob a gestão do tailandês Takshin Shinawatra. Atualmente, o Manchester United vive sua maior seca de títulos ingleses em 28 anos — não ganha desde 2013. É controlado pelo grupo do norte-americano Malcolm Glazer.

O Arsenal foi adquirido em 2007 pelos grupos empresarias do norte-americano Stan Kroenke e de Alisher Usmanov, do Uzbequistão. Seu último título da Premier League data de 2004. Em 2018, o grupo Kroenke Sports & Entertainment adquiriu as ações de Usmanov por 550 milhões de libras e passou a ser o único controlador do time de Londres.

As experiências mal sucedidas na Europa não indicam que não se possa virar clube-empresa. Representam apenas que não existe milagre. Trabalhos sérios levam a bons resultados de empresas, como a Juventus, octacampeã italiana, ou de clubes associativos, como o Barcelona, bicampeão espanhol.

No caso dos gigantes espanhóis, Barcelona e Real Madrid mantêm suas estruturas associativas, mas com departamentos estratégicos dirigidos por profissionais. O Botafogo pode se reestruturar completamente como sociedade de propósito específico. Mas vai exigir trabalho e seriedade.

 

 

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

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O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.