A decisão justa na final paulista é cada um na sua própria casa
PVC
20/04/2015 15h23
Toda vez que um clube toma a decisão de jogar no seu estádio, alguém levanta a ideia de estar errado pela questão econômica. Aconteceu no clássico Botafogo x Fluminense, sem muita gente notar que o Botafogo arrecadou mais jogando no Engenhão do que arrecadaria no Maracanã. A cultura é antiga, fruto dos tempos em que o Brasil se orgulhava de ter os maiores estádios (vazios) do mundo.
Claro que todo mundo tem saudade dos tempos das torcidas divididas no Morumbi, metade santista, metade palmeirense, o mandante entrando no estádio pela rampa E (lado esquerdo do portão principal), a visitante pela rampa C (lado direito da praça Roberto Gomes Pedrosa). Era divertido ver a polícia abrindo mais espaço para a torcida mais numerosa, que ganhava gomos à medida em que as cordas da PM se deslocavam.
Não dá mais para ser assim em São Paulo. Há compromissos com as próprias torcidas.
O caso do Santos é mais complexo, porque há mais santistas em São Paulo do que na Baixada Santista.
Há uma questão política. O presidente Modesto Roma foi eleito pela base eleitoral que possui em Santos e não se sente confortável em roer a corda com esse pedaço de sua Nação. Jogar no Pacaembu também daria a impressão de o Palmeiras jogar duas vezes em casa. Até novembro do ano passado, era no estádio municipal que o Palmeiras mandava seus jogos, antes de inaugurar o Allianz Parque.
Daí que o Santos decide ganhar dinheiro ganhando o título. O troféu representará R$ 3 milhões em prêmios e se jogará como se fazia até os anos 40. Um jogo na casa do Palmeiras, outro na casa do Santos.
É uma graça diferente daquela do passado, quando as torcidas dividiam o Morumbi. Mas é muito bom ter essa cultura, semelhante à do futebol argentino ou do futebol inglês, em que cada clube cuida do seu espaço, vende seu ingresso e manda seu jogo dentro de seu espaço. Ganhar na casa do rival, como visitante, também vale. E já, já, estaremos contando histórias dos clubes imbatíveis como anfitriões ou ingratos como visitantes.
O Santos poderia fazer do Pacaembu a sua casa. Mas a Vila Belmiro também é.
A final vai acontecer do jeito certo.
Sobre o Autor
Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.
Sobre o Blog
O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.