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Crise de comunicação da seleção evidencia visão míope de Dunga sobre clubes

PVC

06/05/2016 06h39

O presidente do Santos, Modesto Roma, negou que seu clube tenha sido consultado sobre as convocações de Gabriel, Ricardo Oliveira e Lucas Lima para a Copa América. Durante a entrevista coletiva pós convocação, o coordenador Gilmar Rinaldi afirmou ter contado com a colaboração do clube da Vila Belmiro, que teria entendido as razões da CBF para tirar seus três principais jogadores de nove rodadas do Brasileirão. Assim como Modesto Roma, o vice-presidente de futebol, Dagoberto dos Santos, disse que ninguém conversou com o Santos: "Comigo ninguém falou."

É a segunda convocação seguida com problemas de comunicação do tipo. Lembre-se de Zinedine Zidane dando entrevista há dois meses a respeito da liberação de Marcelo para jogar pelo Real Madrid. A CBF dizia ter consultado o departamento médico espanhol, o Real Madrid rebatia. Chegou a se falar que havia uma troca de mensagens por whatts app, até que a cúpula da seleção culpou o lateral pela sua própria ausência. O combinado era telefonar na manhã da convocação para informar que já estava bem. Marcelo não ligou.

Até chegar ao veredito, a afirmação era que o Real Madrid havia sido consultado. Não foi.

Há um problema mais grave do que a comunicação na CBF. É o calendário. A última das discussões no comitê de reformas foi a respeito da necessidade de parar as competições nacionais quando houve datas Fifa. Uma parcela do comitê julga que não precisa. O episódio do Santos escancara pela enésima vez que, sim, é mais do que necessário.

As datas Fifa passaram a ser exclusivas da seleção depois das eliminatórias da Copa do Mundo de 1994. Em setembro de 1993, enquanto o Campeonato Espanhol corria solto, Romário do Barcelona e Bebeto do La Coruña formavam o ataque da seleção que vencia o Uruguai no Maracanã e garantiam vaga no Mundial. As eliminatórias eram disputadas num período de dois meses contínuos e os jogadores liberados pelos times da Europa desfalcavam os campeonatos nacionais da Europa.

A partir da Copa seguinte, os clubes europeus não aceitaram mais a situação. A Conmebol espalhou as eliminatórias por dois anos respeitando as datas reservadas para seleções. Quando tem jogo de seleção, não tem campeonato na Europa. No Brasil, tem…

Dunga não gostou de saber que o Santos não concorda com as três convocações. Diz que quando convoca reclama, quando não convoca reclama também. A cúpula da seleção julga que é o momento de valorização dos jogadores. Ops… Não é papel de quem trabalha na seleção brasileira decidir se o clube deseja valorizar seu craque ou se prefere continuar com ele no elenco. Seleção não é balcão de negócios. Convocação não é para facilitar vendas de jogadores nem para dificultá-las.

Nos últimos vinte anos, tanto clubes quanto seleção brasileira são vítimas. Os clubes porque ficam sem seus jogadores, a seleção porque é tratada como vilã ao retirar jogadores dos campeonatos regulares.Só existe uma maneira de regular a situação: respeitar as datas Fifa e parar os torneios enquanto jogarem as seleções.

 

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Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

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