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As surpresas da Rússia

PVC

14/07/2018 10h33

Entrar no primeiro vagão do metrô, linha 3, em direção à zona norte de Moscou e dar de cara com uma exposição de quadros de Sergej Andriania é a última surpresa de um país que se abriu para nossos olhos em dezembro, data do sorteio dos grupos para a Copa do Mundo. É provável que Vladimir Putin julgue bem sucedida a aventura de mostrar ao planeta um país moderno, cosmopolita e capistalista. Mostrou mais do que isso.

Na chegada a Kazan, república do Tajiquistão, a recepção é do motorista Algir. "Você gosta de futebol?", pergunto. "Sou madridista", ele responde. Questiono se fala espanhol e ele diz que não. Por que madridista? "Era o time que eu via na infância." Como estamos no Tajiquistão, questiono sobre o Rubin Kazan. Algir diz que o time é legal, mas não torce por ele. Por quê? "одно сердце одна команда". "Um coração, um time."

Faz sentido. Kazan é uma cidade linda. A República do Tajiquistão tem maioria muçulmana, mas uma mesquita convive com uma igreja ortodoxa na mesma rua, no centro. "Vocês nunca quiseram ser independentes?", pergunto a Algir. "Não temos a menor chance", ele responde. "Porque estamos bem no centro da Rússia."

A resposta sobre times de futebol pelos quais torcem os russos varia de lugar a lugar, mas na maioria coincide com Algyr. Em Moscou, taxistas respondem que preferem lutas ao futebol. Quando dizem um time do coração, duas palavras em inglês aparecem com freqüência: "Manchester United." Os russos não torcem pelos clubes russos. São raros, o que explica a média de 13 mil espectadores por partida no campeonato local, menor do que a do Brasileirão.

Só São Petersburgo é diferente. Самый красивый город в России (A cidade mais bonita da Rússia, foi uma das primeiras frases que aprendi a ler em cirílico, professora Palina Dubobskaya, nascida em Leningrado ensinou). O Zenit é uma referência para o futebol local. Tem torcida. Não vai lotar o estádio Krestovsky, o mais lindo da Copa, situado bem ao lado do Rio Neva, perto do encontro com o Mar Báltico.

São Petersburgo é tão surpreendente que o velho Palácio de Inverno, de onde os bolcheviques retiraram o Czar, quando tomaram o poder na revolução de 1917, ficavam bem ao lado do Neva. Completamento exposto a quem quisesse chegar perto do poder, embora Napoleão Bonaparte não tenha alcançado São Petersburgo, na campanha russa, em 1912. Os franceses de Didier Deschamps, sim. Podem vencer a Copa do Mundo com o menor número de empates por 0 x 0 desde a Suíça, em 1954.

A Rússia é mesmo uma grande surpresa.

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Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.


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