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Paquetá será a sexta maior venda do futebol brasileiro

PVC

10/10/2018 13h06

Por 35 milhões de euros, Lucas Paquetá trocará o Flamengo pelo Milan, a sexta maior venda realizada por um clube do Brasil. Com os bônus por resultados, a transferência pode alcançar 50 milhões de euros. Se isto ocorrer, Paquetá ficará atrás apenas de Neymar, negociado oficialmente por 57 milhões de euros, em 2013, e será o segundo mais caro de todos os tempos.

Acima dos 35 milhões de euros atuais, além de Neymar, apenas Rodrygo e Vinicius Júnior, para o Real Madrid, Lucas Moura do São Paulo para o PSG e Arthur, do Grêmio para o Barcelona.

Os números tornam impossível dizer que a negociação não será boa. No cenário atual do futebol e da economia do Brasil, tem de fazer. A pergunta é até quando a lógica terá de ser esta.

O ciclo vicioso é óbvio. Um clube grande do Brasil precisa vender e o jogador quer ir embora. Em seguida à venda, o time fica menos competitivo e atrai menos torcedores. Conseqüentemente, menos patrocínios. Com estádios mais vazios e menos craques, fica mais difícil formar um campeonato forte, com bons jogos e visibilidade internacional. Sem competitividade, o jogador quer ir para a Europa e o clube não tem como segurar.

A única maneira de inverter esse eixo e criar um ciclo virtuoso é acreditar que os raros clubes bem administrados do país possam resistir mais tempo às vendas. O Flamengo é um deles. Não resiste. O Corinthians deveria ser. Seu presidente, Andrés Sanchez, não acredita na viabilidade de manter atletas quando desejam partir. O Palmeiras segurou Dudu, o Grêmio não vendeu Luan, mas perdeu Arthur. Os casos de resistência são raríssimos.

A história do êxodo no Brasil, contado no livro Bola Fora (2009), começou com Arnaldo Porta, que deixou a cidade de Araraquara, no interior paulista, para jogar pelo Verona. Apesar de transferências extremamente importantes, como de Evaristo para o Barcelona, Didi para o Real Madrid e Altafini para o Milan, no final da década de 1950, a explosão aconteceu a partir da reabertura do mercado italiano, em 1980. Havia 16 clubes na Série A, uma vaga para estrangeiro para cada um. Os brasileiros escolhidos foram Falcão, do Internacional para a Roma, Luís Sílvio, da Ponte Preta para a Pistoiese, Enéas, da Portuguesa para o Bologna.

Quando o mercado passou a permitir dois forasteiros por equipe, Zico, Toninho Cerezo, Sócrates e a geração da Copa de 1982 se foi. Em 1988, abriu-se o terceiro posto de trabalho para estrangeiro, por time. Saíram Romário, Muller, Silas, Ricardo Rocha, Evair… A partir de 1996, com o belga Jean Marc Bosman ganhando ação na corte européia e dando direito a qualquer cidadão europeu de trabalhar em qualquer parte do velho continente, acabou o limite. Brasileiro com passaporte português, italiano, espanhol ou italiano pode jogar sem ser considerado estrangeiro.

O agravante é a desvalorização do real. Mais ainda, a percepção de violência em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.

Mesmo assim, quando dá empate financeiramente, raríssimo com o dólar a R$ 3,75, muitos jogadores preferem ficar no Brasil fazendo churrasco.

Neymar preferiu. Ficou quatro anos no Brasileirão. Rejeitou ofertas do Real Madrid, Chelsea e West Ham, antes de aceitar o Barcelona. Quando finalmente foi jogar no Barça, em 2013, havia encerrado uma temporada em que recebeu mais dinheiro no futebol brasileiro do que Cristiano Ronaldo recebia no Real Madrid. Em 2012, ganhou 12 milhões de euros por seu contrato com o Santos, que incluía contratos publicitários. Cristiano recebeu 10 milhões do Real Madrid, porque seu acordo não previa o dinheiro de publicidade.

Durante três décadas, o Brasil justificou o êxodo pela impossibilidade de concorrer economicamente. Quando Neymar foi embora, não foi por dinheiro. Foi porque o campeonato aqui era pequeno demais para ele.

Paquetá vai porque a economia se destruiu, a violência apavora. Se o cenário fosse outro, o campeonato também estaria ficando pequeno para ele.

Só existe uma maneira de diminuir o êxodo a médio prazo: ter um Brasileirão de verdade.

AS MAIORES VENDAS DO FUTEBOL BRASILEIRO
1. Neymar – Santos – Barcelona (2013) – 57 milhões de euros
2. Rodrygo – Santos – Real Madrid (2018) – 45 milhões de euros
3. Vinicius Júnior – Flamengo – Real Madrid (2017) – 45 milhões de euros
4. Lucas – São Paulo – Paris Saint-Germain (2012) – 43 milhões de euros
5. Arthur – Grêmio – Barcelona (2018) – 40 milhões de euros
6. Lucas Paquetá – Flamengo – Milan (2018) – 35 milhões de euros

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Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.


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