O pecado do VAR é interpretar
PVC
18/10/2018 10h03
Dois anos atrás, havia dois projetos diferentes, discutidos no International Board, para a implantação do árbitro de vídeo. Um, como está sendo aplicado, com monitor dentro do campo e uma comissão em uma cabine com o direito de oferecer à autoridade máxima do campo a chance de revisar as jogadas duvidosas. Esta era a ideia defendida pela Fifa.
O outro projeto, preferido pela CBF, previa que a comissão na cabine só alertasse o árbitro em caso de erro flagrante. Apenas jogadas indiscutíveis. O que coubesse interpretação não seria revisado.
Depois da aprovação do projeto com monitor no centro do campo, houve um pedido ao International Board para que pudesse haver dois tipos de experiência. Sendo um período de testes, poderia haver o monitor em federações europeias e o árbitro de vídeo só para correção de erros inquestionáveis, no Brasil.
O ex-árbitro inglês, David Elleray, do International Board, vetou a segunda experiência. Se ela estivesse em curso na Copa do Brasil, Wilton Pereira Sampaio (VAR) não teria solicitado ao árbitro central, Wágner Magalhães, que revisasse os dois lances polêmicos da finalíssima da Copa do Brasil, em Itaquera.
Isso não exclui que Wágner Magalhães tenha sido fraco ao interpretar de maneira diferente, pelo monitor, o que havia interpretado em bom posicionamento dentro do gramado. Não confiou em seus olhos. Foi inseguro.
Seguem sendo lances de interpretação. Muita gente acha que houve pênalti de Thiago Neves em Ralf e que deveria ser marcada a falta de Jádson em Dedé. Muita gente boa pensa que não. Eu, por exemplo, não marcaria nem o pênalti nem a falta.
No próximo sábado, os ex-árbitros Manoel Serapião Filho e Alício Pena Filho viajarão para Zurique, na Suíça, para um congresso em que será discutida a experiência do VAR. Levarão na bagagem vídeos de jogadas que foram remarcadas e produziram mais polêmica do que alívio.
Há uma série de jogos e jogadas com margens para dúvidas, desde a introdução do árbitro de vídeo. Rapidamente, River Plate x Lanús, na semifinal da Libertadores de 2017, Corinthians x Cruzeiro, na final da Copa do Brasil de 2018, ou a finalíssima da Copa do Mundo entre França e Croácia. Os croatas, tão felizes com o vice-campeonato mundial, não protestam com veemência contra o pênalti marcado a favor da França. No campo, o árbitro entendeu que não houve penalidade. No vídeo, viu diferente. Deu discussão até na cabine do VAR, em Moscou, entre dois integrantes com opiniões diferentes.
Se havia margem para interpretar, deveria prevalecer o que o árbitro viu no campo.
Sobre o Autor
Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.
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