Vergonha alheia
PVC
08/12/2018 08h55
O presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol, Alejandro Dominguez, deu entrevista exclusiva ao diário espanhol El Pais. Rejeita qualquer responsabilidade da Conmebol na confusão que cancelou o jogo River Plate x Boca Juniors, no Monumental de Nuñez, duas semanas atrás. Diz que, anos atrás, a Libertadores era uma copa dormida, esquecida no tempo, e que acontecimentos como os da Argentina aconteceriam mais cedo ou mais tarde. "Em algum momento iria acontecer algo que exigiria auto-crítica e soluções profundas a um problema que está aí e que todos de alguma maneira conhecíamos."
Até aqui, Dominguez fala com correção. É fato que a Conmebol não é a única responsável pelo ataque ao ônibus do Boca Juniors, que aconteceu do lado de fora do Monumental de Nuñez, área de supervisão da segurança pública argentina. Mas impossível é fugir de toda a responsabilidade e dos erros na condução do processo, com o adiamento e mudanças de horários por cinco vezes, até o cancelamento no domingo 24 e o reagendamento para Madri.
Por isso, a partir deste trecho, Dominguez vai muito mal. "Se se conhecia o problema, não se poderia evitar?" pergunta o El Pais. "Da parte da organização, previu-se tudo. Mas só podemos prever o que vai acontecer dentro de campo e pedir assistência e colaboração da polícia e da segurança nacional. Isto escapa à responsabilidade da Conmebol, porque são feitos valndálicos que ocorreram nas ruas. Essa é uma jurisdição da polícia." Pergunta de novo o El Pais: "A responsabilidade é da polícia?" Responde Dominguez: "Definitivamente, não foi da Conmebol."
Um pouco antes, o repórter Juan Irigoyen pergunta a Alejandro Dominguez se sentiu vergonha. Ele responde: "Vergonha alheia. Passouy-nos o mais humilhante que pode passar a um ser humano. Não me entra na cabeça, me parece primitivo. Um dia que ficará marcado a fogo na minha memória."
A complexidade do problema que causou o cancelamento está entendida. O início da confusão pelos barra bravas, também. A tentativa de excluir-se de qualquer responsabilidade, não.
Vergonha alheia.
Sobre o Autor
Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.
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