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O diagnóstico do declínio do Cruzeiro

PVC

08/08/2019 11h58

Um trabalho de três anos, com 234 partidas no currículo, não pode ser ruim.

Especialmente num país em que os treinadores passam no cargo três meses ou três semanas, raras vezes três anos.

Contam-se nos dedos os técnicos que alcançaram esta marca. Telê Santana ficou cinco temporadas no São Paulo, entre 1990 e 1995. Felipão, três anos no Grêmio, de 1993 a 1996, e também no Palmeiras, de 1997 a 2000. Muricy permaneceu três anos no São Paulo, entre 2006 e 2009. O recorde é de Luiz Alonso Peres, o Lula, no Santos de 1954 a 1966.

Todos terminaram com desgaste. Muricy foi demitido numa noite de sexta-feira, no dia seguinte à eliminação da Libertadores contra o Cruzeiro, pelas quartas-de-final. Felipão saiu do Grêmio campeão brasileiro. No Palmeiras, viveu sua única seqüência de cinco partidas sem vitória em seus últimos cinco jogos, que incluíram a final da Libertadores e as quartas-de-final da Copa do Brasil, perdidas para Boca Juniors e São Paulo. Ele já havia anunciado a retirada antes. Telê só saiu em 1996, por causa de uma isquemia cerebral, mas seus últimos resultados de 1995 evidenciavam o desgaste. O time não estava bem.

Mais ou menos como aconteceu com Mano Menezes. Em sua entrevista coletiva de despedida, Mano nem discutiu a qualidade do time atual. Uma vitória em dezoito jogos explicam tudo, o próprio treinador disse. A pergunta é por que o desgaste de três anos de trabalho levou a uma sucessão tão grande de insucessos, se mesmo no início da temporada o Cruzeiro se tornou o último clube da Série A a sofrer derrotas.

Verdade que o primeiro trimestre incluiu o Campeonato Mineiro e a fase de grupos da Libertadores, que não era tão difícil, contra Huracán, Deportivo Lara e Emelec. Mas os estaduais eram mais simples também para outros times que perderam suas invencibilidades mais cedo.

O diagnóstico interno do Cruzeiro indica que o desgaste nasceu pela soma entre o tempo no cargo e um elenco heterogêneo, que reúne jogadores de alto salário, alguns de baixo rendimento, e outros de dinheiro mais curto em meio à maior crise institucional da história do clube. O Cruzeiro quebrou, o vice-presidente foi afastado do cargo, a crise de liderança do clube pode ter chegado ao vestiário. Diante de tudo isso, Mano Menezes bateu no peito e assumiu toda a culpa. Claro que tem enorme parcela.

Por que, no entanto, o time que não perdia até o fim de abril degringolou desta maneira. Houve a lesão e queda de rendimento de Rodriguinho, o mau momento técnico de Thiago Neves, a condição física de Fred, artilheiro do time na temporada com 16 gols, 12 no Campeonato Mineiro, 4 na Libertadores contra Huracán e Deportivo Lara.

Três anos no cargo geram cansaço. O fim do ciclo faz parecer o pior trabalho da carreira de Mano Menezes. Foi um dos melhores, ou não teria durado 234 partidas.

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Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

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