Topo

Influência estrangeira foi decisiva antes de Brasil campeão mundial

PVC

09/09/2019 13h53

A final do primeiro turno entre o Flamengo, de Jorge Jesus, e o Santos, de Jorge Sampaoli, reforça a ideia de que o intercâmbio de treinadores aumentou o repertório e interferiu na melhoria do nível técnico. A média de gols deste ano é 6% maior do que em 2018. O Flamengo tem o melhor ataque da história dos pontos corridos com 20 clubes, no primeiro turno, e o Santos tem o segundo maior número de gols marcados. Os treinadores estrangeiros não são o único fator, mas o intercâmbio sempre fez bem ao futebol do Brasil.

Voltar no tempo ajuda a entender isto.

Dos quatro primeiros campeões do Rio-São Paulo, três eram dirigidos por treinadores internacionais. O Palestra Itália ganhou em 1933 sob o comando do uruguaio Humberto Cabelli. Também o Palmeiras, em 1951, foi dirigido pelo uruguaio Ventura Cambom e o argentino Jim López orientava a Portuguesa de 1952. Naquela década, o São Paulo foi campeão paulista sob o comando do húngaro Béla Guttmann, que influenciou diretamente a Vicente Feola, treinador da seleção no Mundial de 1958, na Suécia.

Béla Guttmann trocou o São Paulo pelo Porto, foi campeão português em 1959, e seguiu para o Benfica, onde ganhou a Copa dos Campeões da Europa em 1961 e 1962. A influência estrangeira em Portugal também se deu com brasileiros, como Oto Glória, antecessor de Guttmann no Benfica.

A mistura de culturas faz bem. Na década de 1960, o Palmeiras ganhou o Rio-São Paulo sob o comando do argentino Filpo Nuñez, que já havia trabalhado em clubes brasileiros como o Vasco, o Cruzeiro e o Corinthians. Filpo era quase brasileiro, mas nascido no futebol argentino.

Muitos desses estrangeiros conheciam a cultura brasileira. Casos de José Poy, vice-campeão brasileiro pelo São Paulo, em 1971, goleiro são-paulino nas décadas de 1940 e 1950. Muitos dos que chegaram depois sofreram pelas particularidades, ou vícios do país. Muito antes de começar o discurso de que os treinadores brasileiros estavam ultrapassados, houve intercâmbio com treinadores do exterior.  Toda vez que se generaliza, cometem-se erros. Os treinadores brasileiros não estão ultrapassados, mas há os que têm trabalhado melhor e outros pior.

É assim, também, no exterior. O inglês Roy Hodgson dirigiu a Suíça na Copa do Mundo de 1994, foi eliminado com a Inglaterra na fase de grupos da Copa do Mundo do Brasil, em 2014, e nas oitavas-de-final da Euro 2016, pela Islândia. Hoje, aos 72 anos, dirige o Crystal Palace, em quarto lugar na Premier League. Desde 1992, não há um único treinador nascido na Inglaterra campeão inglês. Hodgson está lá e convive com Guardiola e Klopp.

Na era dos pontos corridos, depois de 2003, o São Paulo teve quatro técnicos estrangeiros: Roberto Rojas, Juan Carlos Osorio, Edgardo Bauza e Diego Aguirre. O Internacional foi dirigido por Jorge Fossatti e Diego Aguirre, o Athletico Paranaense por Lothar Matthäus e Miguel Angel Portugal, o Corinthians por Daniel Passarella, o Palmeiras por Ricardo Gareca, o Cruzeiro por Paulo Bento, o Grêmio por Darío Pereyra e Hugo De León, A diferença é o bom nível do treinador e do projeto que assume. Jorge Sampaoli e Jorge Jesus são ótimos profissionais e caíram em lugares que dão respaldo.

A lembrança de que, no Brasil, só houve um campeão nacional treinado por estrangeiro, e mesmo assim em um único jogo, dá a ideia de que nunca houve intercâmbio. É um equívoco. Carlos Volante assumiu o lugar de Geninho, ex-Botafogo, apenas no último jogo da Taça Brasil de 1959. Mas o Rio-São Paulo e os estaduais estão repletos de histórias de treinadores estrangeiros, como Jorge Jesus e Sampaoli. Em 1953, o São Paulo foi campeão estadual dirigido pelo argentino Jim López e o Flamengo ganhou o carioca sob o comando do paraguaio Fleitas Solich, observado com resistência pelos discípulos de Flávio Costa, especialmente depois de levar 6 x 0 em seu terceiro compromisso, na Gávea.

Em pouco tempo, Solich foi apelidado de "Bruxo." Nem era bruxaria. Era apenas trabalho.

Como os de Jorge Jesus e Jorge Sampaoli, que duelarão pelo título simbólico do primeiro turno, no próximo sábado, no Maracanã.

 

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Influência estrangeira foi decisiva antes de Brasil campeão mundial - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.


Coluna do PVC