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Palmeiras foi da chantagem de Sampaoli a refém do passado com Luxemburgo

PVC

16/12/2019 03h49

Ninguém vai querer prever o futuro e dizer que não há nenhuma chance de Vanderlei Luxemburgo fazer bom trabalho em sua quinta passagem pelo Palmeiras. Há quase três décadas, imaginava-se que Luxemburgo seria o próximo técnico brasileiro a ganhar a Libertadores, depois de Telê Santana. Nestes 26 anos, ganharam Felipão, Paulo Autuori, Antônio Lopes, Abel Braga, Celso Roth, Muricy, Tite, Cuca e Renato Gaúcho. Será curioso se, em sua primeira Libertadores depois de o termos aposentado, Luxemburgo finalmente ganhar o torneio que sempre foi seu sonho.

Mas Luxemburgo não é a escolha adequada, para um clube que se pretende moderno. O Palmeiras mira o futuro olhando para seu passado, porque é refém de sua velha política. Refém do conselho deliberativo, da torcida uniformizada, de Serafim Del Grande, caricatura do dirigente que foi, e de Leila Pereira.

Se conselheiro fosse bom, a gente vendia. E os conselhos oferecidos pela velha política de condomínio do Palmeiras são sempre procurar a solução mais simplista. Se der errado, como se imagina, a crítica não deve ser endereçada a Luxemburgo. Os culpados serão Maurício Galiotte, Serafim Del Grande e Leila Pereira, que não entende nada de futebol, mas não faz questão de se cercar de quem entende.

Se Luxemburgo deu certo em 1993, 1994, 1996, 2008… se Felipão deu certo em 2018, por que Luxemburgo não pode dar certo agora?

Porque o Palmeiras precisa ser vanguarda, analisar o mercado, mapear os grandes técnicos do país e do exterior, descobrir soluções inteligentes e ousadas em vez de contentar políticos de clube.

A culpa também é de Alexandre Mattos, porque em cinco anos de Palmeiras não conseguiu desenvolver um departamento de inteligência suficientemente adequado para saber quem são, como jogam e quanto recebem os melhores treinadores disponíveis.

Por esta última razão, o Palmeiras ficou refém de Jorge Sampaoli. E quando se viu obrigado a desistir de Sampaoli, por uma seqüência de mudanças de exigências do treinador argentino, o Palmeiras foi vítima de sua velha política.

Durante toda a negociação com Sampaoli, o treinador argentino sabia ser a única solução para o Palmeiras. Não apenas porque a torcida o queria. Por ser o único no mercado com repercussão. Parecia uma ideia avançada, olhar para a frente. Mas, na prática, representava que o Palmeiras fazia o mesmo de sempre: contratava o maior nome.

Não é proibido contratar o nomão, o problema é ir ao mercado em busca da grande repercussão, em vez da grande ideia. Como o Palmeiras fez em 1965 com Filpo Nuñez, em 1969 com Rubens Minelli, em 1993 com… Vanderlei Luxemburgo.

Refém do nomão, o Palmeiras negociou com Sampaoli, com o auxílio do agente André Cury, que trabalhou com Alexandre Mattos. Sampaoli pedia 4,5 milhões de dólares líquidos anuais (R$ 21 milhões), mais o pagamento da multa dos seus quatro assistentes no Santos, mais segurança particular, mais penduricalhos que tornavam a contratação inimaginável. No meio do caminho, Sampaoli disse que estava insatisfeito com o trabalho de André Cury e dispensou-o.

Passou a usar o italiano Daniele Monti, como seu agente. Foi nessa ocasião que Galiotte foi chamado ao seu encontro, no Rio de Janeiro. Na reunião, Sampaoli apresentou uma palestra em power-point, detalhando o futebol brasileiro, suas características táticas, qualidades e defeitos, o que o Palmeiras precisava, as necessidades para ter um time moderno, insinuante, agressivo. Evidentemente, quem assistiu à palestra ficou boquiaberto. Sampaoli é muito bom.

Ao mesmo tempo, Sampaoli deixou vazar o interesse do Atlético. Apesar de o clube mineiro desmentir, havia conversas com o BMG. Foi justamente por meio do banco, e do agente de jogadores Giuliano Bertolucci, que Jorge Jesus chegou ao Flamengo, depois de negociar com o Atlético e com o vice-presidente rubro-negro Marcos Braz.

Ao mesmo tempo em que o técnico argentino sabia, e dizia, que o Palmeiras era o único clube do Brasil que lhe permitiria rivalizar com o Flamengo, deixava transparecer o interesse de outros times.

No sábado (14), data limite imposta pelo Palmeiras para ter uma resposta, o agente Daniele Monti disse que aceitava a redução de US$ 4,5 milhões anuais para US$ 4,2 milhões líquidos por ano e a retirada de todos os penduricalhos. Os dirigentes palmeirenses reuniram-se e fecharam a conta. Dava para pagar. Apertado, mas dava para finalizar a negociação.

Sampaoli seria o técnico do Palmeiras e já era a tarde de sábado, 14 de dezembro.

No telefonema de volta para Daniele Monti, surpresa. Entre as novas e as velhas exigências, entravam 10% da premiação total do Palmeiras em tudo o que conquistasse. Mais aluguel de R$ 105 mil num apartamento em São Paulo, segurança particular, dez passagens aéreas para a Argentina.

Se a relação já era de quebra de confiança no primeiro mês de negociação, o que imaginar de uma relação que duraria dois anos? O Palmeiras desistiu e tinha dois planos alternativos. Um deles, exigia coragem: Miguel Angel Ramírez. Não dá para dizer que o técnico do Independiente del Valle seria a escolha certeira, mas seria diferente e corajosa. O presidente Galiotte ficou inseguro, por saber que, na primeira derrota, a pressão seria forte no conselho deliberativo e na torcida uniformizada.

Então, o Palmeiras deixou de ser refém de Sampaoli e passou a ser refém do próprio Palmeiras. Vanderlei Luxemburgo merece um novo grande trabalho, merece lembrar a todos nós quem ele é na história do futebol brasileiro. No Vasco, ele não fez isso. Apenas tirou o time da lanterna do campeonato e levou para o bloco intermediário. Não é ruim. Mas não é o Luxemburgo dos velhos tempos.

Seus trabalhos dos últimos anos não avalizam que o clube que mais se coloca como candidato a anti Flamengo e anti Jorge Jesus lhe dê esta chance. Poderia dar se fosse por convicção.

Mas dá por medo da pressão e da velha política.

Como dizia Luxemburgo no tempo em que era o melhor técnico do Brasil, nos anos 1990 e 2000, o medo de perder tira a vontade de ganhar.

Maurício Galiotte perdeu uma grande oportunidade de fazer o Palmeiras voltar a ser vanguarda.

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Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

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