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Coluna do PVC

Flamengo merecia mais. Liverpool tem mundial

PVC

21/12/2019 17h06

O Flamengo cumpriu à risca o plano tático de Jorge Jesus, no primeiro tempo.

Quando o treinador português alertou para o fato de que Jurgen Klopp faz o mais especial sistema 4-3-3, em sua entrevista pré-jogo, estava falando da agressividade com que os três atacantes pressionam a saída de bola do adversário. Segundo Jesus, nem Guardiola faz isso tão bem quanto o alemão.

O alerta para seus jogadores foi para o cuidado na saída de bola — e William Arão entregou de bandeja uma bola a Henderson, no primeiro tempo. Foi também sobre o espaço que sobra, quando o adversário do Liverpool o induz a fazer Firmino perseguir o líbero, com a bola. Neste caso, Henderson ultrapassa a linha dos volantes para marcar o meia rival.

Abre-se o espaço atrás do meio-de-campo, à frente dos zagueiros.

É o que se convencionou chamar de entrelinha. Jesus queria Éverton Ribeiro e De Arrascaeta entre as linhas e conseguiu fazer isso em grande parte da decisão do Mundial de Clubes.

O primeiro tempo terminou com superioridade rubro-negra, cinco finalizações, 51% de posse de bola. Verdade que Firmino perdeu gol frente a frente com Diego Alves no primeiro minuto.

Que o Liverpool controlou os primeiros quinze minutos. Mas o Flamengo jogou, tentou atacar, não se intimidou, não se amedrontou diante do campeão da Champions League.

Tinha até um pequeno Maracanã situado à esquerda das tribunas. Se dos 45 mil lugares a maioria estava ocupada por torcedores asiáticos do Liverpool (a Embaixada calculou 12 mil brasileiros), a torcida mais barulhenta era, disparadamente, do Flamengo. Mais ainda depois de Gabigol obrigar Alisson a fazer grande defesa, na primeira bola chutada no alvo, início da segunda etapa. Gabriel também chutaria a segunda, com uma linda meia bicicleta, aos 23.

Era incrivelmente um 0 x 0, com apenas duas finalizações certas e, ao mesmo tempo, um partidaço. Duelo de estratégia.

Klopp deu bronca em Alexander-Arnold depois de perder duas jogadas para Bruno Henrique. Arnold joga muito. O que Klopp talvez não soubesse é que Bruno Henrique, também. Quando Chamberlain caiu machucado, aos 29, Klopp chamou Firmino e bronqueou também. Não estava feliz com o desempenho de sua equipe. O Flamengo estava melhor.

O Liverpool tinha Salah em seu melhor momento na temporada. Quatro gols e duas assistências nos últimos cinco jogos, antes da decisão. Chegou a marcar, em completo impedimento, mas a rigor era quem levava perigo para Rodrigo Caio e Pablo Marí.

Foi quem começou a jogada mais perigosa, oferecendo passe a Firmino e deste para Mané, em jogada que o VAR salvou o árbitro. O país que mais reclama do árbitro de vídeo no planeta viu seu campeão escapar da injustiça pela revisão.

Então veio a prorrogação de uma equipe com 76 partidas no ano, 74 delas oficiais, contra o Liverpool em seu vigésimo nono jogo em 2019/20 e o de número 55 no ano, de janeiro a dezembro. São 19 partidas a mais, o que ficou evidente na queda de Gabriel, com câibras, no segundo minuto do tempo extra.

O Flamengo criou duas oportunidades, poderia abrir o marcador mesmo com o cansaço de Gabriel, que seguiu em campo, e de Gérson, que precisou ser substituído. Até o contra-ataque com lançamento perfeito de Henderson — que atuação! — para Mané servir Firmino. Que frieza teve o atacante brasileiro para marcar.

Lincoln ainda perdeu gol fácil, aos 14 do segundo tempo da prorrogação. Passe de Vitinho.

Um pecado, pela atuação rubro-negra e pela estratégia traçada por Jorge Jesus. O Liverpool venceu, porque os europeus hoje mandam no futebol mundial com seleções multinacionais. Mas o Flamengo saiu do Catar com a vitória de ter mostrado ser possível ter uma equipe, na América do Sul, que encare frente a frente o campeão da Europa.

FINAL

Sábado, 21/dezembro/2019

LIVERPOOL 1 x 0 FLAMENGO – 20h30 (14h30)

Local: Khalifa (Doha); Juiz: Abdulrahman Al Jassim (Qatar); Público: 45.416; Gols: Firmino 8 do 1º da prorrogação; Cartão amarelo: Mané (45'), Salah (80'), Vitinho (89'), Milner (99'), Diego (112')

LIVERPOOL: 1. Alisson (7), 66. Alexander-Arnold (6), 12. Joe Gómez (5), 4. Van Dijk (6) e 26. Robertson (5,5); 14. Henderson (8), 15. Chamberlain (6) (7. Lallana 29 do 2º (5)) e 8. Keita (6,5) (7. Milner 9 do 1º da prorrogação (5,5)); 11. Salah (6,5) (23. Shaqiri 15 do 2º da prorrogação (sem nota)), 9. Firmino (6,5) (27. Origi, intervalo da prorrogação (5)) e 10. Mané (6,5). Técnico: Jurgen Klopp

FLAMENGO: 1. Diego Alves (6), 13. Rafinha (6,5), 3. Rodrigo Caio (6), 4. Pablo Marí (7) e 16. Filipe Luís (6); 5. William Arão (6,5) (28. Berrio 14 do 2º da prorrogação (sem nota)); 7. Éverton Ribeiro (6) (10. Diego 36 do 2º (6)), 8. Gérson (7) (29. Lincoln 12 do 1º da prorrogação (6)) e 14. De Arrascaeta (5) (11. Vitinho 31 do 2º (5)); 9. Gabriel (6,5) e 27. Bruno Henrique (6,5). Técnico: Jorge Jesus

 

 

 

 

Sobre o Autor

Paulo Vinicius Coelho é jornalista esportivo, blogueiro do UOL, colunista da Folha de S. Paulo. Cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018) e oito finais de Champions League, in loco. Nasceu em São Paulo, vive no Rio de Janeiro e seu objetivo é olhar para o mundo. Falar de futebol de todos os ângulos: tático, técnico, físico, econômico e político, em qualquer canto do planeta. Especializado em futebol do mundo.

Sobre o Blog

O blog tem por objetivo analisar o futebol brasileiro e internacional em todos os seus aspectos (técnico, tático, político e econômico), sempre na tentativa de oferecer uma visão moderna e notícias em primeira mão.